Nunca foi a traição o teor daquele relacionamento. Trair foi um átimo, um peso que significou a ruptura na confiança por um tempo. Foi a partir daí que se dividiram as casas: uma em Moquetá, outra em Miguel Couto. A partir daí, também, Priscila e Dedé, os gêmeos bivitelinos, passaram a viver entre as duas casas. Foi desse acontecimento que os natais e réveillons começaram a ser divididos em dois espaços…, em 2016 e 2017, separados. Em 2018, Ricardo deu uma passada na casa na casa de Leda e romperam o ano juntos…, em 2019 se encontraram em Tinguá na sitio de um amigo em comum.
Nunca foi a ruptura o mais importante daquele amor. Ricardo e Leda se conheciam desde os treze anos e o bem querer deles estava fadado a nunca falir. Se apaixonaram, namoraram, viajaram para Paraty, Porto alegre, Buenos Aires… Casaram, compraram a casa de Moquetá pelo programa “Minha casa, minha vida”, terminaram o curso de Direito, no caso dele, e de História, no caso dela, e curtiram estar juntos o quanto puderam, e amaram serem pais de um casal de uma só vez… Fora tudo intenso! Passar os anos, celebrar as bodas, tomarem banho de mar, de chuva, de mangueira, e sorrir e chorar como crianças em corpos crescidos.
Nunca foi o “cada um para um lado” o motor que os impulsionou, que os fez, com o tempo, superar as mágoas, redefinir a cor do fogo que os mantinha acesos, redefinir a paixão, desfazer os laços para refazê-los em novos natais, anos novos, datas, dias, horas comuns… Pois fora o amor que, potente e cálido, os unira em febre e suavidade.
E quando Ricardo se apaixonou por outra pessoa, Leda quis humanamente quebrar os copos, selar as palavras, apagar as histórias e deixar de ser a lúdica força dos instantes difíceis, das privações e cansaços e gritou: “Vai embora!” Porque era digno que ele fosse, uma vez que desfizera a promessa de que nenhum dos dois nunca se apaixonaria por mais ninguém. Mas a vida não era assim uma estrada linear de aventuras. E Ricardo sequer teve um caso extraconjugal, apenas teve um sentimento, um desgaste, uma silaba diferente na construção de um conto. E Leda, no mesmo conto, sentiu-se traída por alguma coisa que ela também sentia, a necessidade de um fim ou de reticências que virassem as páginas e esgotassem o tema.
A distância os aproximou e os fez redescobrir a fidelidade. Os gêmeos cresciam e os ensinavam que se pode amar de muitas formas, todas intensas e há pessoas que se enfurecem e se afastam, se abraçam e se perdoam e que se equivocam nas insistências. E quem vê Leda e Ricardo hoje, em 2025, de mãos dadas, como irmãos, no calçadão de Nova Iguaçu, a procurarem enfeites para as casas um do outro, amados, com novos cônjuges e amigos que se enfeitam de alegrias, entende que eles nunca se traíram. Foram apenas sinceros. Pois foi a sinceridade o mais importante para aquele amor. E os frutos, e as datas, as casas, as crianças, as viagens, conquistas… permaneciam em estado de constante transformações e renovações de votos.
Nunca foram os primeiros sentidos das palavras que determinaram o relacionamento deles. Portanto, traição e ruptura, na multiplicidade das intepretações, posicionou cada um de um lado, como amigos, numa versão do amor que não se esgota e que os mantém juntos, depois das tempestades, até o dia de hoje. E o amanhã? O amanhã é uma promessa…
Maravilhoso uma construção poética incrível parabéns Claudio Lessa!
Não achei bom, mas Adorável!!! Concordo com cada palavra, tanto na literatura como na vida! Parabéns!!! 👏🌻🫶
Obrigado.Katia!
Muito bom 🙌
Obrigado, Maria!!!
Maravilha de narrativa. Amei! 👏👏👏
Obrigado Joseani
Nada comum. Muito intenso e surpreendente como todo que vc escreve Cláudio Lessa. Parabéns!
Obrigado, Nalva!