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A princesa desencantada

Havia num reino – não tão distante daqui – uma princesa muito bondosa, cujo nome era Liliane, mas todos a chamavam de Lili. Princesa Lili cresceu dentro dos afagos e mimos. Sempre bem tratada, todos os presentes do castelo eram para ela, mesmo não sendo seu aniversário.

Quando brincava com as outras crianças, seus amiguinhos a deixavam ganhar nas brincadeiras. Todos os melhores brinquedos, Lili possuía. E vinham até visitas de outros reinos para alegrá-la com histórias e presentes caros.

Só que a doce princesa, desde bem pequenina, trazia no coração uma bondade que ela mesma não sabia definir. Era de muita nobreza, sem saber que era. Não achava certo ter tanto e os empregados do castelo, quase nada, trabalhando de sol a sol, com roupas tão gastas e empobrecidas, e os filhos destes, não podendo partilhar de sua mesa às refeições.

Lili costumava perguntar aos seus professores particulares que, na época, eram chamados preceptores:
– Por que eu posso aprender a ler e a escrever e as outras crianças, não?
– Porque você é nobre! – respondiam eles.
– E o que é ser nobre?
– Você é filha do rei e da rainha. Portanto, você é nobre!
– Então, ser nobre é não se importar com as outras pessoas?

Os professores, nessas ocasiões, ficavam quietos. Não sabiam como responder…

Sendo da realeza ou não, como toda criança, Lili cresceu. Estando já adulta, a rainha e o rei resolveram confiar nela para tomar conta do reino, enquanto viajavam a fim de conhecer outros lugares. A Princesa achou tudo normal e imaginou que seria fácil cuidar de um espaço que conhecia tão bem. Porém, Princesa Lili não havia aprendido com os professores: descobriu problema por toda parte!

Muitos de seus súditos passavam fome, mais fome do que já sabia quando era criança, incluindo seus amiguinhos de infância que, agora adultos quais ela, não tinham emprego, nem conseguiam comer pão todos os dias. Ao se deparar com essa situação, a doce Princesa chorou. 

Ficou desencantada por ver a vida tão triste da maioria das pessoas que conhecia. E como não tinha profissão – ela só sabia ser nobre! – chorou mais ainda ao lembrar que todo o seu estudo não a ajudava naquele momento.

O que interessava conhecer o nome de todos os satélites naturais de Júpiter? Que o Sol é 330 mil vezes maior que a Terra? Que o Japão é o país mais antigo do mundo? E que a água no estado sólido, quando passa para o estado líquido, chama-se fusão? Sua aprendizagem não bastava naquele momento.

Quando os pais retornaram da viagem, Lili conversou com eles. Falou seriamente que precisava ajudar o seu povo. Vendo os olhos tristes da filha, o rei e a rainha resolveram ajudá-la a se sentir mais útil.

Como Lili era uma grande violoncelista, orientaram que ela poderia fazer apresentações para a realeza de outros reinos e, assim, arrecadar dinheiro para dar melhor qualidade de vida para os seus súditos.

Os pais estavam envergonhados por terem sido tão mesquinhos e prometeram que tentariam ser governantes mais justos. Todo mundo passou a recorrer à jovem Princesa quando queria alguma solução para os problemas.

A partir dessa situação, Lili descobriu o real significado de sua nobreza. Percebeu que era nobre não por ser princesa, filha do rei e da rainha, e sim por ter um sentimento digno de amor ao próximo. Nobreza que vinha do coração e que fazia, realmente, a todos muito felizes!