mãe leoa

A maternidade que me pariu

Sábado, 9h30,  coloco o celular na mesa e ele treme de novo. Caramba,  assim eu não consigo tomar banho! Estava atrasada, tinha que ir com a caçula ao médico novo, pois ela é autista e minha presença se faz necessária para seu suporte e para maiores esclarecimentos junto ao profissional em questão.

Quando você se torna mãe, uma das coisas que acontece é que você nunca mais vai dormir sem antes pensar no filho, e quando você é mãe atípica, você nunca mais vai viver sem pensar no que tem que fazer para o suporte do filho. Simples assim…

Olho a tela do celular e vejo que é minha filha mais velha, de novo. Ela está grávida e o médico deu quatro dias para seu primeiro filho nascer (de um jeito ou de outro), pois estava passando do tempo e, claro, ela está muito ansiosa.

Domingo retrasado ela disse que estava com contração e nos fez correr pra a maternidade, mas era fake news. A médica de plantão falou que foi uma crise de ansiedade.

Pego o telefone e (mãe calma e amorosa que sou) atendo daquele jeitinho:
– Fala Nalu! O quê que é agora?!?

Ao que ela responde, meio risonha e eufórica (sim, mãe sabe, mesmo pelo telefone, como está o filho):
– Você não vai a lugar nenhum, seu neto estourou a bolsa! Eu vou tomar banho, me encontra no hospital! – E desliga o telefone abruptamente.

Pronto! Fiquei prostrada por uns bons segundos, ali, no meio da saleta, tonta, estatelada e depois quase infartada.

E agora, José? Preciso de um clone! Como dar assistência para as duas? Respiro e chamo Loise:
– Filha, a bolsa da sua irmã estourou. Vou te deixar no médico e vou para a maternidade, que é ao lado, volto assim que der! OK?

Tudo certo, conseguimos sair de casa e assim foi. Chego na maternidade e ela já está lá, junto com o companheiro, que (por razões extraordinárias no novo trabalho) não poderá acompanhar o parto, para a tristeza dele e alegria para mim, que após os devidos preparos, me vejo ali sentada num banco ao lado dela, segurando sua mão, enquanto duas cirurgiãs fazem seu parto cesáreo, numa sala onde havia apenas um homem, o anestesista, e onde eu me sinto mega feliz, sendo mulher, por participar desse momento ímpar.

Meu neto nasce e, tal como foi o parto dela, sem provocar contrações na mãe, coberto de mecônio, com uma manchinha vermelha no rosto, olhos bem abertos e plenos pulmões, tão alto é seu choro, como se reclamasse de ter que sair do aconchego que foi seu abrigo por quarenta semanas!

Naquele momento me pego rezando, de novo, como há 22 anos atrás, e agradecendo a vida.

Para quem não queria ter filhos, estou me superando. Já sou avó e nunca, em momento algum, antes de descobrir que estava grávida dela (já com três meses), imaginei que viveria essa emoção.

Eu pari duas filhas, mas foi a maternidade que me pariu, pois se a pessoa que sou hoje, e a mulher que carrega uma onça dentro de si e que, inclusive, já deu a cara e rugiu para defender as crias, é graças à essas duas pessoas.

Minha mãe sempre citava um trecho do Poema Enjoadinho, de Vinicius de Moraes, que começa assim:
“Filhos, filhos?
Melhor não tê-los
Mas se não os temos
Como sabe-los?… “

E não é que é mesmo!!?!!

Ah, não consegui participar desta consulta, mas correu tudo bem, sinal de que meus esforços para torna-la autossuficiente renderam frutos, mesmo tendo sido intimada para a próxima consulta pelo doutor.

Entre tantas histórias mentais que escrevi sobre o tema, essa grudou e tive que expressa-la aqui, porque afinal …

#AVidaÉBela