Quando eu era criança ficava apavorada com filmes de terror, mas assistia mesmo assim. Não sei se pela adrenalina do medo ou para provar a mim mesma tamanha coragem. Nas locadoras de fita K7 eu e minha irmã já íamos direto na sessão em que tinha filmes de terror. O combinado era assistirmos juntas mas, na hora de dormir, unir nossas camas e dormirmos agarradas. Se uma de nós quisesse ir ao banheiro acordava a outra para irmos juntas. Eu tinha medo de dormir e o Freddy Krueger aparecer no meu sonho e me partir ao meio com aquelas garras afiadas ou o Jason aparecer na janela e, com aquela motosserra elétrica barulhenta e assustadora, fazer picadinho de nós, sem contar com os demônios do filme Exorcista e a história de Poltergeist, uma menina possuída que girava o seu pescoço em 360 graus. A garotinha entrava em um tronco de uma árvore e aparecia na TV. Isso para mim era mesmo um terror.
Repito que após ver os filmes, a cena sempre se repetia: tínhamos que juntar as camas, não irmos ao banheiro sozinhas, cobrirmos a cabeça toda e sempre agarradas uma na outra. Era a melhor maneira de nos protegermos. Mas isso tudo eram somente frutos da nossa imaginação, coisas de crianças medrosas. Mas existia terror muito pior, pior de verdade. Quando íamos visitar uma tia, única irmã de nossa mãe. Os carinhos suspeitos do meu tio nos banhos de piscina ou de mar. Uma onda gigante seria menos perigosa que ele. Gostaria que um tubarão aparecesse e o engolisse inteiro. Eu imaginava tudo isso. Minha imaginação era como nos filmes e não iria acontecer. Ele também poderia ter um câncer ou morrer atropelado; enfim, qualquer uma das opções seriam válidas desde que nos dias das visitas ele não estivesse lá. Ai, não existiria a “hora do pesadelo”. Esse foi o nosso segredo, meu e da minha irmã por muitos anos. Tentávamos nos manter distantes mas, quando a família se reunia, isso era impossível. Lá estava ele…
Fomos crescendo com esse terror dentro de nós. Hoje, sei me defender de alguns monstros. De outros não me livrarei nunca, pois eles vivem dentro de mim. O pior é saber que não sou a única do mundo. Então, algo tão comum não pode fazer com que eu me sinta azarada ou especial. Depois de tantos anos, às vezes acho que superei. Prefiro não fazer essa pergunta à minha irmã.
Eu só queria… Que Deus protegesse todas as crianças do mundo. E que o Diabo levasse todos os pedófilos para o Inferno.
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