O sábado acordou com o choro da menina. Trepada no pé de goiaba, soluçava, no alto, com as mãos agarradas aos galhos.
Não era justo! A goiabeira era dela! Cresceram juntas, companheiras de peripécias, de ficar de ponta à cabeça. Ofertava as goiabas vermelhas que a menina comia direto do pé, sem lavar. Por que ela deveria ser tirada?
O pai tinha explicado que a árvore estava justamente onde seria construída a casa nova, no local onde estaria a sala de estar. Ora, então por que a casa não podia ser construída em volta da goiabeira? Deu a ideia. O pai achou graça, mas tinha ficado com dó. Só tiraria na segunda, na hora da escola.
O domingo chegou e o famigerado machado não estava mais à vista no grande quintal. Quem sabe o pai não havia aceitado a sua ideia? Alegrou-se. Passou o dia sentada no meio do tronco central, fazendo a árvore de berço para suas bonecas.
A segunda-feira veio. Escola, turma aprendendo a ler, professora exigente, hora da saída. A menina veio feliz com a notícia de que a mãe faria pastelão de frango pro almoço, seu prato predileto. Chegava com água na boca! Mas quando o portão abriu, esqueceu a delícia e a saliva ganhou travo de fel: os galhos da goiabeira jaziam no chão e o pai puxava, pela corda de cânhamo, seu tronco já queimado e vazio.
A menina não chorou de novo. Pra quê? Não tinha dado certo na primeira vez… e agora já era o fim…
A casa que se erguia trazia desgosto, depois aguda saudade, depois ternas lembranças. Muitos anos se passaram… a goiabeira? Mora na lembrança da menina. A menina? A mulher que mora na casa.
Se ela se esqueceu da goiabeira? Acho que não. Em quarenta anos de existência, a sala da casa é o único lugar que sempre é pintado de verde…
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