Anemonas

A espetacular Paty Faria e seus divinos encantos

Ele costuma se gabar em possuir um faro transcendental com coisas sobre administração em, digamos,  condomínios pouco convencionais – banca de jogo do bicho, bingos, cabines de sexo e coisas do gênero.  Literalmente ele cheira o novo “associado” e logo manda um veredicto financeiro-sócio-afetivo sobre o  futuro “cliente”, bem como dos possíveis lucros. E fora com este perfil peculiar que o meu sócio adquirira  aquela fama de… Sei lá qual! Ora, qualquer que fosse o seu critério, não me cabe julgá-lo – ele deve saber  muito bem o que faz. Como não há nada muito lícito nos nossos negócios, vivemos desta pseudo boa  relação com a “vizinhança”; cobramos somente módicos honorários pela exploração informal dos quartinhos e de todo o empreendimento coorporativo: “O Divino Muquifo”, com a sua sede privilegiada  numa meia-água atrás da rodoviária. E lá se pratica de um tudo… Temos Deus como testemunha!  

Mas nem sempre foram só rosas, houve tempos espinhosos. As coisas até que iam bem com os nossos  parceiros… Até que num belo dia…, melhor, foi numa bela noite, que ele, todo animadinho com o que, assim farejara, fosse um “negócio da China”; chegou abraçado com uma moça, apresentando-me a nossa  nova “vizinha”: Aqui ó meu! Esta é a Patinha!!!
– Olá! Sou Paty Faria, toda sua!

Ela cantarolou pra  mim, ensaiando umas nuances semitonadas nos lábios carmim e num balanceio de língua. Fiquei de bobo, sem entender quase nada do que estava rolando… Ele, então, me segurou pelo braço e me levou até um  canto já me segredando aos ouvidos: “Que a havia encontrado na Rodoviária no ponto de embarque para Magé. Que havia lhe oferecido um esquema 0800 como teste em função de algum mistério esquisito…” –  e, continuando sempre à boca miúda: “Ela tem três vaginas espalhadas pelo corpo… imagina só, mermão… Porra, sabe lá o que é que é isso?! Uma verdadeira mina de diamantes!, né não!?” Diante  daquela revelação, nem pestanejei, quer dizer, pestanejei pra cacete; gelei… gaguejei… emudeci e, pensei  logo em Deus!  

Bom, é fato: Deus fez a Paty com três bimbinhas… fiquei bem curioso, assim como o meu sócio e fomos  lá tirar a prova dos nove. E, enfim, estupefatos e boquiabertos, atestamos aquela anomalia: Uma é bem normal e cabeludinha – e fica mesmo lá, entre as pernas; a outra está meio enviesada e um tanto  camuflada entre a confluência da curvatura dos seios; e a terceira, é a menor delas, é bem lisinha e fica nas costas, bem no meio das costas… E, pra nossa maior surpresa e decepção, ela nos confidenciou assim:
– Não sinto nada, absolutamente nada… nas três! Sou frígida… totalmente assexuada!!! Mas… posso muito  bem fingir que sinto múltiplos orgasmos, tipo assim ó!… Pagando bem, que mal tem?!  

O que Deus faz não deve ser questionado! Mas… fiquei um tempinho parado só imaginando… Lógico,  qualquer um pensaria assim: “Num momento qualquer entre um terremoto e um tsunami, Ele  simplesmente resolve criar uma mulher com três pepecas. (E é nesse momento que alguém tenta me  corrigir: ‘Acho que isso aí não tá muito certo?! Acho que se escreve com K: pe-pe-ka…’) Pronto! Deus é  uma sumidade em criar maravilhas, mas, de vez em quando, parece que exagera. Por exemplo, a anêmona  do mar… Alguém já viu uma? Se já, explique-me qual é a razão de sua existência? Então… pra que  serve?… É! Às vezes, Deus parece mesmo exagerar bolando uns roteiros grotescos. Mas, também cria  roteiristas aleatórios… e uns, bem bizarros, inventam lá umas histórias muito esquisitas.  

E foi assim que a Paty Faria se tornou a nossa sócia majoritária fazendo o maior sucesso com as suas  performances libidinosas. E foi assim, também, que passei a valorizar as anêmonas do mar, pois venho  criando umas num aquário e fico um bom tempo só as observando naquele eterno e inocente chafurdar…  Mais dia menos dia, sei que vou acabar descobrindo do porquê de sua existência… Vou continuar  tentando. Mas, ultimamente, ando pensando muito sobre os porquês do ornitorrinco existir… Alguém aí já viu algum de perto?