Era uma vez, um menino iluminado.
Levava uma vida simples, aparentemente como tantos meninos de seu entorno rural.
Gostava de brincar, correr, pegar fruta no pé. Deliciava-se com o sabor da manga e depois com o caroço esfiapado, fazendo carinhas, inventava um brinquedo. Inventar era com ele!
Cismava em seguir com o olhar os vagalumes no quintal. O breu da noite com pisca-piscas aéreos era outra forma de brinquedo.
Menino pobre a andar descalço. Quase não usava sapatos. Muito mal tinha um tênis fajuto para ir à escola. Única coisa que, sábios, os pais faziam questão de oferecê-lo: estudo. E lá se foi mais um dia!
Na hora de dormir olhou ainda a janela. Foi um festival de pirilampos e ele, como encantado, elevou as mãos para tocá-los, mas os espertos fugiram, sumiram, transformados em estrelas. E ele se embrenhou na noite, alcançando-as cintilantes no céu. Sim, ele podia voar e flutuou como se fosse um astronauta na imensidão. Era tudo muito real. A sensação de voar, de contrariar a Lei da Gravidade. Mas, de longe vinha uma voz…
Acordou com um chamado carinhoso da mãe. E muito embora levasse um susto por pousar em terra firme, mais precisamente em sua cama, percebeu que trazia, quentinha ainda, uma pedrinha guardada em uma de suas mãos.
Contou aos pais sua recente aventura orbital durante o café da manhã caprichado nesse dia especial. Mostrou-lhes sua pedrinha e jurou, por tudo que é mais sagrado a uma criança, que a tinha buscado lá no céu. Talvez, só estivesse opaca por ser dia claro, mas à noite tornaria a brilhar.
Era um domingo e também seu aniversário. Iriam sair para passear. Ganhou de presente um tênis com luzes que acendiam ao pisar, o qual estreou logo. Os pais tiveram que fazer um esforço para tal luxo, único em seus primeiros anos. Mas, sabiam do fascínio do filho por coisas que luziam. E no fundo de seus corações só queriam para o filho uma vida que percorresse caminhos alumiados, mesmo com suas intermitências…
Chegaram em casa cansados do intenso dia, mas à noite quando todos já estavam deitados, menos a mãe que ainda passava pelo corredor, ela percebeu uma luzinha serelepe pelos vãos da porta do quarto do menino.
Chamou o companheiro, mas ele estava sonolento e não lhe deu ouvidos. Também sonolenta, e lembrando o que o filho contou, pensou que estivesse imaginando coisas e foi deitar. E o menino iluminado, em seu quarto, sorria com a companhia estelar. Dizem que até hoje ele a traz consigo.
E quem vai dizer que essa história é uma mera invenção?
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