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Era uma vez na Disney

A criançada da classe média estava eufórica; o grupo finalmente iria realizar o sonho nutrido desde há multo tempo: iriam pra Disneylândia. Conhecer os parques temáticos e os famosos personagens do famoso desenhista, que havia encantado inicialmente seus avós, depois os pais e agora as crianças. Lógico que ir à Disney era para os pais era um status de afinal conseguir, após muita economia, enviar os filhos para um país de primeiro mundo. Um orgulho total ver a ascensão de seus pimpolhos, mesmo que o passeio fosse por uns míseros dias. No aeroporto emoção, o check-in, malas pesadíssimas, lágrimas e choros de ambos os lados. O avião decolou e no céu as nuvens algodonosas e branquinhas no entorno do avião já faziam a criançada sonhar com a Disneylândia. Sonhar literalmente, pois à noite dormiram profundamente sonhando com brincadeiras “puras” e sensíveis dos personagens da Disney. Pousaram e se alojaram num hotel próximo do parque.

Na manhã seguinte todos em fila aguardando a entrada no parque. Porém, as crianças não sabiam que no dia anterior os funcionários, incluindo os personagens da Disneylândia, tinham feito uma assembleia onde exigiam um aumento salarial, pois o salário dos patetas estava congelado desde quando o último brinquedo dos dinossauros tinha sido construído, consumindo milhões de dólares, sem dar o retorno do lucro investido. Mickey, agora com um shortinho vermelho e uma boina vermelha com uma estrela no centro dela, insuflou a massa de personagens, levantando o braço esquerdo na assembleia, exigindo um aumento mágico (de Oz), fato que não foi aceito pela direção do parque. Foi então que os personagens resolveram se rebelar, fazendo ao menos uma operação “Tartaruga Ninja”. Resolveram mudar suas máscaras, que no lugar de um sorriso simpático, tinham um olhar furioso ou mal-encarado. As crianças entraram no parque embevecidas e encantadas, e os primeiros contatos não foram digamos, simpáticos. As meninas quiseram fazer uma graça com a Minnie, oferecendo um ramalhete de flores, mas em resposta, ela amassou o ramalhete, empurrou as meninas e puxou suas orelhas. Logo algumas crianças choraram, sendo acudidas pelos guias que não entenderam a animosidade da personagem. Os meninos tentaram interagir com o Mickey, que com aquela máscara emburrada deu um safanão neles e distribuiu vários cascudos, pernadas e tapas, sendo auxiliado pelo Pateta com um olhar feroz e logo pelos Irmãos Metralha e pelo Mancha Negra. Pato Donald aproveitou a deixa, e junto com Huguinho, Zezinho e Luizinho, saíram correndo atrás das crianças dando safanões e chineladas. Havia ali quase um linchamento. O Tio Patinhas e o Gastão roubaram os dólares das crianças e riam sarcasticamente.

Os turistas observaram que algo não estava correndo bem naquele parque encantado, começou uma verdadeira correria e logo o pânico se instalou. A Cinderela jogava abóbora nas crianças que corriam desesperadas, o capitão Gancho junto com o Peter Pan, ameaçava a turma toda com espadas e roubavam seus pirulitos e sorvetes. Sininho dava mordiscadas nas crianças, como se fosse um mosquito feroz e que coçava muito. Branca de Neve e a Bruxa Má, sorrateiras, ofereciam maçãs talvez envenenadas e os Sete Anões batiam nas crianças com seus pequenos cassetetes. O Lobo Mau rosnava e corria atrás das crianças com seus dentes à mostra. Sua baba viscosa, seus olhos enormes avermelhados e aterradores atormentavam as crianças, que fugiram tentando se proteger dentro do palácio da Disney, que por sinal, como os iluminadores estavam também no movimento grevista. Resolveram transformar aquele simpático e encantador castelo cor de rosa num macabro e gótico castelo ensombrecido e assombrado. Ouviam-se ao longe gritos de horror que ecoavam como assombrações. Anoiteceu e as noticias sobre a Disneylândia aterrorizante correram o mundo todo. A policia americana, violenta como sempre, saiu atrás do Pateta, Mickey e Irmãos Metralhas distribuindo cacetadas pra todos lados. As crianças haviam se escondido e escapado dos ameaçadores personagens. Sorrateiramente saíram de seus esconderijos e acharam felizmente o guia de viagem e imploraram para retornaram para seu hotel. Voltaram no dia seguinte, aliviadas para o seu país de origem e na viagem observaram como as nuvens haviam se tornado cinzentas e dormiram profundamente, remoendo pesadelos impensáveis sobre um país que descobriram ser de faz de contas.