Meu primeiro dia de aula! Não queria vir, estou assustado, mas também muito curioso para saber como é a tal escolinha por dentro, o parquinho… As outras crianças…
O que dói mais é deixar a mamãe do lado de fora do portão. Ela estava triste, parecia querer chorar. Fiquei com pena dela, mas fui com a tia. Ela parecia tão boazinha, pegou na minha mão com carinho, mas logo que entramos na sala, mandou-me sentar sozinho! Não fez igual mamãe, que me leva no colo e depois junta as minhas perninhas. Olhei para ela com olhinhos de queixas, mas ela nem viu, já que estava falando para o menino da mochila vermelha que ele estava grande demais para usar chupeta. Acho que me enganei, ela não é boazinha nada.
A minha mamãe deixar eu chupar a minha chupeta na hora de dormir, faz carinho nos meus cabelos, diz que sou seu príncipe! Já a tia diz que já sou um rapaz. Me obrigou a arrumar os brinquedos que espalhei na hora de brincar. Lavei as mãos sozinho, depois do almoço. Nem a banana ela quis descascar pra mim. Só não fiquei de mal com ela porque ela me contou uma história, linda… Diferente das que a mamãe me conta, falou de um menino que queria crescer logo, ficar grandão, antes mesmo de aprender a falar, a comer, a escrever.
Um dia o dente dele caiu e o menino, muito bobo, ao invés de pedir um pirulito para a fada do dente, pediu para ser grande. E quando ele acordou no outro dia estava enorme, maior do que o papai. O meninão ficou parado se olhando na frente do espelho. Ele tinha barba, mas não sabia faze-la. Na verdade ele, o meninão, não sabia de nada. Não sabia aonde estava o papai, nem a mamãe. Sentiu medo, sentiu fome, mas não sabia aonde estava o leite e nem o biscoito. Ele saiu para rua de pijama e descalço, pediu para moça um pouco de leite, mas ela perguntou por que ele não ia trabalhar. Pediu para uma outra um pedacinho de pão, e ela disse:
– Conserta aquela cerca, que te pago uns trocados.
Ele não sabia, a mamãe dele nunca o deixava brincar com os pregos. Meninão andou o dia todo procurando a sua mamãe. Estava com os pés doendo, com mais fome ainda. Foi quando ele viu a cesta de maças do camelô, resolveu pegar uma, só uma. Ele adorava maçãs. Mas começaram a gritar:
– Ladrão! Pega, pega ladrão!
Meninão correu, correu muito, entrou dentro de casa e se escondeu embaixo da cama e adormeceu. Acordou no dia seguinte com a mamãe dele o chamando para ir para escola. Tinha voltado a ser pequeno outra vez.
Eu fiquei pensando naquela história o tempo todo. Acho que vou querer voltar para a escola amanhã de novo.
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