Em Nova Piam morava uma família de classe… abastada! Era apenas um casal e sua filhinha, Rechene, uma menina muito mimada… Até por ser filha única. Mais que isso, a mãe fez muitos tratamento para fecundar. Engravidaram outras três vezes, mas perdia… Então teve essa filha!…
Mas, o que seria uma alegria se tornou um grande problema para o casal. Lidiane, a mãe, rejeitou naturalmente a criança, e, claro, negligenciava as mamadas quando Carlos não estava. E o choro da criança a irritava mais e mais. No entanto, ela sabia, pois vivenciou a paixão que o marido depositou na filha assim que a viu. Por isso, em sua presença, fingia um enorme dengo e apego por Rechene. Batizada em homenagem à bisavó materna. É aquela história, se fosse menino, ele escolheria o nome, mas…
Lidiane passou a negligenciar o marido também. Alegava dores de cabeça que, deveras, tinha! Com isso, Carlos se atentou as constantes crises de choro da bebê… Chegava em casa, a mulher já dormia, após sedar a menina, claro! E, ele, começou a perceber outras mulheres… No trabalho, nos bares, onde ia… Via mulheres deslumbrantes, sensuais… Como, um dia, Lidiane fora. Já não se preocupava em chegar cedo… Lidiane já estaria dormindo! Pensava que fosse sua lida com criança, talvez advinda da dificuldade em parir… Ao negligenciar o marido… E vice-versa, Lidiane expôs um lado ruim, apático… Sentia-se cansada, sempre, incompreendida. Passou a “vegetar” uma solidão. A menina era um símbolo de tudo isso!
E nesse clima Rechene cresceu. Um tanto quanto dona de tudo. O carinho não recebido da mãe era ofertado em dobro pelo pai. Passou a mandar! Queria, tinha! Carlos não negava nada. Já Lidiane passou a ostentar cara de mulher “mal amada”. As vizinhas tiravam suas conclusões. Carlos era o vilão. Mulherengo. Algumas se insinuavam, mas ele tinha sua seletividade. E virou boçal! “Talvez fosse veado!” Esse pensamento as acalmava e irritava o seu encantado “sex appeal”. O que elas odeiam.
Um belo dia, Carlos chegou com pacote enorme para Rechene e um menor para Lidiane… A menina tratou de pegar o seu pacote, mas não deixou de notar que o pai entregara um para a mãe. Rasgou o embrulho de seu presente com certa ansiedade, mas também com raiva. Carlos deu à Lidiane três conjuntos de lingeries. Ela estava no sofá lendo um livro de “Como salvar o meu casamento”, que escamoteou com a chegada do marido. Era o que ele estava fazendo. Ele a beijou e entregou o presente. Sob os olhares de Rechene, injetados de sangue.
Era um Urso! Rechene ganhara um bonito ursinho, lilás e branco.
– Ele nem tem cor de urso… Tem é cor de caixão! – Reclamou!
– É o Bel! Ele é diferente, mas especial!
– Mas antes fosse Vel, de velório!…
– Não!… É Bel!… De Belchior!
Espelhada pela mãe, ela só brincava com Bel quando pai chegava em casa. No entanto, tratava de fugir do olhar dele:
– Vamos, Bel, vamos brincar no quintal, papai vai trabalhar… Né, pai?
Mas, ao chegar no quintal, jogava-o longe. “Brincava” de enfiar terra na boca do ursinho:
– Toma, Vel!… Come, seu desgraçado!
Nestas circunstancias, o casamento não durou! Por outra, virou eterno. Carlos não queria ficar longe da filha… E, na situação da mulher, morreria se a largasse. Tinha emagrecido horrores. Resolveu que a teria, mesmo assim. Prazer? Tinha, do bom, com Selma, sua amante mais efetiva. E também tinha várias amigas no clube que passou a frequentar. Passou a visitar a cama de Lidiane apenas uma vez por semana, ou nem isso… Quando a via mais “arrumada”. Era o sinal! Normalmente ele dormia no sofá. Rechene notou essa separação. Pediu pra ele dormir no quarto com ela. Ele alegou que tinha trabalhos pra realizar no computador, até tarde… Por isso dormia no sofá:
– Sei! – ela resmungou, após um muxoxo.
No entanto resolveram mudar a desculpa de que a vizinhança ali era muito intrometida. Foram para um apartamento. Caminhão de mudanças os seguindo. Rechene insistiu de levar o urso. O pai adorou. Mas, era um plano maldoso:
– Olha, Bel… Aqui é a cidade. Não é linda?… Nós vamos morar em um apartamento bem legal! – Falava pra o ursinho enquanto o segurava ante a janela.
“Olha isso!”, “Olha aquilo!”. Ao passar por um viaduto, trânsito tenebroso, arremessou o bichinho de pelúcia o mais longe que deu:
– Pai!… Pai, o Bel caiu pela janela!… – Falou friamente!
– Caramba, Rechene!… Não tem como voltar!…
– Ah, papai… Volta! – Disse no mesmo tom anterior.
– Não tem como… Papai compra outro pra você!
-Ebaaaaa!… Da cor de urso desta vez, tá?
– Tá bom!
Sentada no banco do carona, Lidiane seguia em seu mundo particular.
Bel caiu no meio da pista de rolamento! Primeiro, um carro o jogou bem à frente, mas na pista contrária… Onde foi atropelado e caiu na margem da estrada. Um cachorro passando por ali resolveu levá-lo. Atracou os dentes em uma de suas patas e foi. No entanto, um desvio de um buraco e um carro apanha de cheio o cão, que cai estropiado mais à frente. Bel mais à frente ainda. Um homem das ruas que passava no momento ouviu o ganir do cão e atravessou a rua para socorre-lo. De onde estava, Bel viu o cão ser socorrido pelo homem e por um motorista que estacionou debaixo do viaduto. O cão foi levado. Bel ficou!
Leiam parte 2 – Bel, o ursinho que se encontrou
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