– É claro que é de Deus!… Né, não? – Exclama Clarinha.
– Acho que ele não tava aqui na semana passada… nunca vi nada parecido… – Completa o primo João – É… deve ter vindo com a ressaca! Aí, tá ligado, ressaca é fogo, bagunça tudo mermo, né não!!! É só ondão, rapá! Pô aí manero se eu tivesse uma prancha de sufe… Aí mermão…
– Ih! O cara aí! Tu nunca pegô onda; só pode tá de caô! – Grita Jorge à distância, zoando o irmão.
– Isso deve ter vindo lá do matinho, bem ali naquelas pedras; tá vendo só quanto treco espalhado; tá vendo lá, tudo lixo… choveu a semana toda e a barranqueira desceu; eu já vi isso acontecer! Passou até no jornal da TV. E foi lá pros lados do morro, bem lá pertinho de casa, lembra?… Lá, quando chove é bagulho doido… desce tudo, tá ligado! Ó só lá ói, é barro; toco de arvre… E isso aí ó, é coisa que não veio do mar não! É da terra mermo, mô cumpade! – Fecha o maiorzinho – O primão.
– Aí, vamos levar ele pra casa e perguntar pro pai, heim? – Clarinha, de novo – Acho que é bicho de Deus mesmo!
– Valeu mermo, Nina! Vamo catá ele. Vô inté botá nome, sabe de quê? Ressaca! Legal, né não? – Aí, bate aqui mano… – Emenda o João, permanecendo com a mão estendida um tempinho sem que ninguém batesse nela.
– Caraca! Que troço feio é esse? Todo cheio de perninhas!… parece até uma aranha… credo! – Vem se chegando Laila, quase cantarolando.
– Boto a mão nisso não! Aí, tenho nojo! – Prossegue, já jogando areia nele
Coisa que ele parece gostar, começando a cavucar e ligeiramente se afundando na areia fofa. Mas, logo se vê jogado ao ar, com areia e tudo, pelo chutão que o primão lhe dá. Voa longe batendo no peito de Jorge que está deitado pegando um bronzeado e, ao se espantar com o bichinho se debatendo em sua barriga, lhe dá um tapão que o faz voltar rapidinho pro lugar de onde veio, aos pés da molecada:
– Ih! Acho que não é de Deus, Clarinha. Melhor levar pra casa não!
– Isso aí é melhor que camarão, é só cozinhar no vapor e comer com casca e tudo! – Pronuncia o vendedor de mate, com um jeitão de professor-ecologista e gastrônomo.
– BLUUAARRCH… Ai que nojo! – Laila faz ânsia de vômito – … BLUUUAARRCH – Nova ânsia – … BLUUUAARRCH – Desta vez a ânsia é da Clarinha, acompanhando a amiga.
– ♪Vamos indo nessa… vomitão!!… Olha o maaate… geladiiinho… com limããão!”… Olha a rima!♪ – O vendedor de mate vai sumindo no horizonte.
– Valeu galera, vamô nadá que é melhó – Vem correndo o primão puxando todo o grupo com ele em direção à água – VAMBORA GALÉÉÉRA!!!
. . .
Vem caindo a noitinha na praia deserta, com a maré já começando a encher e as marolas indo e vindo. Então, na calmaria de seus melhores momentos, sentindo-se largado e solto na areia, o tatuí, ou melhor, Ressaca, pode, enfim voltar pro mar que é seu lugar calmo e seguro, ao menos pra ele que adora umas ondas.
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