Para Madame Loulou aquele disparate não tinha perdão! Como pode uma pessoa viver desse jeito, uma das meninas mais rica da sociedade paulistana? Andando naqueles andrajos, calças rasgadas, blusa de lã furada, cabelo desgrenhado?!?!
– É moda, vó! Todo mundo na minha escola anda assim. Me deixa – Falou a adolescente virando os olhos, com uma cara feia.
– Vó, não começa com essa implicância com as minhas coisas, não, hein?!
A elegante senhora deu uma bufada de canto de boca e disse, bem baixinho:
– Quel horreur! Essas adolescentes de hoje em dia não sabem como se vestir, como se comportar. É por isso que queria levar Camille comigo para Paris assim que fez quatro anos, mas Jean-Luc, não quis! Dommage!
Camille saiu de casa batendo a porta pensando:
– Minha avó só quer saber dessas bobagens de etiqueta, de roupa assim, comida não sei quê, credo!
A adolescente, no auge dos seus quinze anos, detestava essas convenções e não entendia a avó, a chatice, a exigência. Por outro lado, adorava a avó. Ela era enjoada assim, mas era muito carinhosa, gostava de contar as histórias da França de quando ela era pequena, da época da guerra. Ela dizia que era uma vida dura, complicada, às vezes não tinha o que comer, mas mesmo assim era feliz com o pouco que tinha naquela época. Frisava que a menina tinha tudo e que devia dar valor. Camille pensou um pouco:
– Acho que vou voltar para casa. Não gosto de deixar mamie Loulou triste…
Madame Loulou estava sentada na cadeira da varanda quando ouviu a porta da frente abrir e sua petite allouete entrar. Olhou para a menina e a abraçou:
– A adolescência passa rápido. Laisse tomber”. Fechou a porta com um sorriso.
Conto lindo, um bálsamo de ternura.