– Dizem que falo sozinho. Estão enganados. Falo comigo mesmo. Se não gostam do que falo, o problema é deles. Que tapem os ouvidos. Eu gosto muito!
– Já tive dias de glória. Por culpa dos opositores fui destituído do poder. Vou culpar até a morte aquele baixinho, língua presa, deficiente manual. A culpa foi dele! Tomou o meu lugar!
-Hoje, aqui no asilo, mesmo não querendo muito contato com os demais internos, não me sinto sozinho. Aliás, prefiro não ter contato algum com quem quer que seja. Eu me basto!
Limpando a saliva seca que melava sua boca, continua em voz alta:
– Um bando de gente chata e que teima em dizer que o chato sou eu! Considero uma enorme prepotência de quem acredita que me conhece o suficiente para ter intimidade comigo. Pensam que possuem essa capacidade? Não chegam aos meus pés. Não são dotados de um intelecto como o meu. Acreditam que a Terra é redonda?
– Há um bom tempo não recebo visitas… nem dos meus filhos… Também não me fazem falta! Não preciso deles pra nada!
– Lá vem aquela gentinha me incomodar! Não sabem o lugar deles?
Em sua cadeira de rodas, Jair vê os dois enfermeiros se aproximando:
– Senhor Jair, vamos ao banho e trocar a fraldinha?
– Vocês sabem com quem estão falando? Pensam que vão tirar o meu orgulho e a minha dignidade? Vocês não perdem por esperar!
Ignorando o falatório, os profissionais seguem em sua árdua rotina de trabalho, cuidando com abnegação de mais um caso perdido.
Um conto triste, que retrata a realidade. Esse é o momento em que obrigatoriamente viramos crianças.
Grata pela leitura, amigo.
Tá bem perto da verdade.
Captou a mensagem?…kkk