pandeiro

Caso perdido no samba

Mirandinha era sem dúvida um cara gente boa. Simpático, brincalhão e um tremendo mão aberto quando se tratava de colaborar financeiramente na roda de samba, organizada pelos amigos no final de semana. Com ele não tinha miséria. Carne e cerveja ele não deixava faltar no encontro dominical que acontecia pontualmente ao meio-dia na casa do Alfredão da Viola, no bairro da Luz, próximo da UNIG, em Nova Iguaçu. O grupo musical dos amigos, chamando de Os amigos do ritmo era formando por: Tiãozinho no cavaco, Espinhela Caída no surdão, Alfredão na viola e Jorjão no atabaque. Sempre apareciam alguns músicos amigos para participar do encontro.

E o Mirandinha, além de ser o boa praça e o mão aberta, o que fazia no grupo? Era o pandeirista. Quer dizer, pandeirista uma pinoia. Era completamente um inimigo do ritmo, não tocava nada. Quando ele chegava na roda, todo garboso, de chapéu Panamá, óculos escuro e todo desajeitado com seu pandeiro, abria um grande sorriso para todos e dizia:
– Pensavam que eu não vinha? Olha eu aqui!

Para não ferir os brios do amigo, os músicos batiam palmas e murmuravam ente si:
– Esse Miradinha é um caso perdido. Se ele não fosse tão gente boa e mão aberta, ele entrava na minha casa, mas deixava o pandeiro lá fora.

Mas o que os músicos faziam para que aquele “inimigo do ritmo” tocasse na roda e não atrapalhasse? Na hora de plugar os instrumentos e os microfones na mesa de som, eles colocavam um microfone para o pandeiro do Mirandinha, mas desligado. Naquele emaranhados de fios e com o som dos outros instrumentos em alto volume, não se ouvia o desafinado pandeiro, que apanhava sem dó de um Mirandinha em êxtase com a sua apresentação.

Tudo ia “bem” até o dia em que Mirandinha chegou sem o seu pandeiro no samba e disse para o grupo:
– Meus amigos, não fiquem tristes. Estou me afastando do grupo por alguns meses, porque não tenho mais saco para tocar pandeiro e decidi aprender tocar outro instrumento, o violão.

Os amigos se mostraram chateados com a decisão de Mirandinha, porque no fundo iam perder por algum tempo o mão aberta do grupo, mas também aliviados e livres do seu pandeiro. Mas antes que eles pudessem comemorar, Mirandinha deu uma esperança (ou quem sabe uma ameaça) aos sambistas:
– Mas deixem o meu lugar vago, porque eu voltarei!

Se ele aprendeu a tocar violão, e se voltou para o grupo, isso é outra história.