Passava das doze horas quando Fernando deu mais uma de suas escapulidas. Ele já vinha apresentando sinais de estranheza a algum tempo. Júlia, a matriarca da família, estava bem atenta às saídas misteriosas de seu neto, mas dessa vez ela não ficou parada aguardando. Foi atrás do rapaz, correu, chamou um carro de aplicativo que passava na hora e pediu que o seguisse. Com um celular estranho na mão, parecendo estar enviando mensagens, o moço andava pelas ruas até que atendeu ao telefone, marcando um encontro para ali mesmo. Júlia, de dentro do carro, ouvia tudo sem ser notada, até que três homens se aproximaram em atitude bem suspeita, encostando Fernando na parede. A princípio, parecia ser uma assalto, até que ficou claro se tratar de um assunto pessoal. O tom ameaçador logo deu lugar a um diálogo em voz baixa, quase sussurrada, parecendo ser uma conspiração que bem lembrava de Agatha Christie em seus livros. Durou pouquíssimos minutos, até que um deles passou às mãos de Fernando um papel, que imediatamente colocou no bolso da bermuda do jeito que recebeu. Seriam drogas? Um mapa? Um endereço? Júlia pediu ao motorista que ficasse atento, para não perder o rapaz de vista, que logo seguiu adiante, se encontrando com um outro homem vestindo um capuz que lhe escondia o rosto. Passou às suas mãos um envelope tipo de carta. Fernando o colocou dentro da bermuda enfiado pelo cós. Assustada, Júlia fica a observar. O carro tinha os vidros filmados facilitando tudo.
Fernando acende um cigarro e sai fumando, parecendo estar bem nervoso. Dá sinal para um ônibus com destino a Central do Brasil, desce na Fiocruz. Um jovem belo, com cabelos loiros, vem ao seu encontro lhe dando um caloroso beijo na boca. Os dois saem de mãos dadas e entram no carro com destino ao motel mais próximo. Sem motivo para aguardar Julia, desolada, volta pra casa quase em choque por tudo o que viu custando crer ser verdade.
Bem tarde da noite, o rapaz retorna todo perfumado, com roupas novas e um belo sorriso no rosto. A família já estava dormindo. Com a casa em silêncio, Fernando se sentiu à vontade em deixar as sacolas em cima do sofá. Esvaziou os bolsos, tirou as roupas se dirigindo para o banheiro só de cuecas para tomar um banho, sem imaginar estar sendo observado.
Julia foi direto ao bolso e lá estava o papel escrito: “Você sumiu, meu amor. O que aconteceu? Coloquei esses caras na sua cola pra te matar, mas não tenho coragem. Volta pra mim ou vai morrer. Não aceito ficar sem você”.
Procurou mais um pouco e encontrou o envelope com alguns dólares e um bilhete: “Compra aquela lingerie e vem!”
– Meu Deus! – Exclamou Julia – O que está acontecendo?
Sem esconder ter mexido e lido suas coisas, Júlia se dirige ao banheiro e entra trancando a porta, já questionando o que significa tudo aquilo e dizendo que é melhor começar a falar antes que acorde a casa toda, inclusive a sua mulher e filhos!
O rapaz se enxuga rapidamente, chamando a avó de louca, sem entender nada, até ouvir tudo o que realmente aconteceu. Envergonhado, se prostra no vaso sanitário com as mãos na cabeça:
– Vó, que absurdo o que você fez? Violou a minha privacidade de um modo cruel. E agora? O que quer que eu faça? Você praticou a maior traição comigo! Tive o cuidado de não passar o número do telefone, de fazer tudo fora de casa. E agora?
– Vou aguardar a Elisa acordar com as crianças e contar o que aconteceu e aguardar o que vão resolver fazer, mas aqui não moro mais!
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