– Trimmm trimmmm
Ela acordou assustada com o barulho da campainha. Olhou pela janela e viu que já anoitecera. Pegou o celular, conferiu a hora e não se importou nada com o fato de ter apagado por mais de cinco horas sentada na cadeira do escritório de sua casa. Foi no aplicativo de mensagens e leu de novo toda a conversa que estava ali, afrontando-a. Não sabia se chorava, se gritava, se dormia de novo ou se ia para cozinha fritar um ovo. Toda vez que estava na merda ela comia um ovo frito, como se o ovo fosse o único alimento na casa… Riu lembrando do bordão que ouvia quando saia a rua e o carro do ovo passava: “a galinha chorooou!” É, mas a galinha não chora mais quando bota ovos, porque pelo preço que estavam custando, ela devia estar comendo caviar. Ninguém podia falar que só pobre comia ovo (razão pela qual ela comia ovo, para ruminar a pobreza que sentia no coração e a que imaginava que sentiria se só pudesse comer ovo… Não que realmente pensasse que comer ovo era pobreza, afinal , todos os alimentos são sagrados e como tal devem ser agradecidos).
Levantou-se e ouviu uma sinfonia de estalos, um crec crec inconfundível. Realmente, não era mais uma garotinha esperando o ônibus da escola sozinha e seu príncipe tinha, sim, virado um sapo, e um sapo cururu!!! Rumou para a cozinha e preparou aquela omelete, abriu a garrafa de vinho mais cara que havia na geladeira (que estava ali para comemorar sete anos de casamento). Pegou sua taça de cristal favorita, colocou Tom Jobim pra tocar e ao som de “Eu sei que vou te amar, por toda minha vida eu vou te amar…” se entregou à dor e a delicia de ser o que se é… Uma mulher que descobriu a traição do marido através de um sutiã esquecido embaixo de sua cama… e um sutiã 46!!! A vaca dona daquelas tetas achou um jeito de contar que ele a traía e ainda de zombar de seu sutiã número 40…
Acabou a refeição e deixou a louça na pia. Tinha muita coisa para fazer. Inclusive passar um pano na casa! Pegou a taça de vinho e a garrafa e rumou para o armário do futuro ex-marido. De cara viu uma das joias raras dele pendurada… aquela era a mais preciosa!!! Com um sorriso de siso à siso pegou a camisa do time do coração (se é que ele tinha um…), Vasco, o rodo e água sanitária… Tinha duas horas para limpar o chão antes de encontrar as amigas, e ela ainda pretendia usar as outras camisas… Lembrou do morador de rua que ela sempre ajudava, tinha certeza que ele iria amar os sapatos e as roupas novas. Quem sabe poderia até dividir com outros amigos de calçada. Sorriu de novo ao imaginar a alegria do senhor. Estava nascendo ali uma nova mulher! #AVidaBela e a camisa do Vasco? Já era!
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