Enfim, férias! Há uma década esperava por esse momento de liberdade. Estava tudo planejado. Após o aniversário de Nina, sairíamos de férias. Só nós dois, eu e o Murilo. Nossa filha ficaria com a vovó Bela. Apesar de vovó muitas vezes esquecer quem era aquela menina que passava dias em sua casa, elas sabiam se divertir.
Nossas vidas tinham mudado completamente desde o nascimento de Nina. Antes, éramos dois. Bem jovens e cheios de ideias brilhantes sobre um futuro quimérico em uma casa no campo onde pudéssemos plantar qualquer coisa, de cogumelos à notas de cem. Mas numa noite mágica de céu estrelado e luar, viramos três. Não fazíamos ideia de quanto custava um pacote de fraldas! Nina precisou bem mais que isso.
A casa no campo ficou pra trás, substituímos algumas das ideias brilhantes por outras opacas e montamos nossa barraca de camping na casa da mãe do Murilo. Essa foi, sem dúvidas, a primeira barra pesada que enfrentamos. Depois vieram outras, muitas outras…
O acidente do irmão do Murilo, a morte súbita do meu pai, a doença da minha avó, meu longo período de desemprego, a separação dos pais do Murilo, e a “DE-PRES-SÃO” da minha sogra. Cara, passamos por muitas coisas nessa última década!
Planejamos cada detalhe. Economizamos durante alguns anos, juntamos cada centavo, mas nunca deixamos faltar nada pra Nina. Apesar da nossa imaturidade quando ela nasceu, aprendemos a ser mãe e pai responsáveis e ricos de amor. Éramos uma família feliz, apesar dos percalços. Mas naquele momento, merecíamos férias!
Alguns amigos já tinham viajado pra Punta Cana e diziam que era a nossa cara. Estávamos ansiosos. As malas estavam prontas há uma semana e sempre que lembrava, colocava mais alguma coisa. Deixamos a Nina na casa da vovó Bela e voltamos pra casa para descansar, o voo sairia às quatro da madrugada. Por volta da meia noite, o telefone tocou. Pensei que fosse a maluca da Verônica, minha amiga de infância, querendo passar as últimas dicas pra viagem.
Mas não. Era o irmão do Murilo dando a terrível notícia de que a tia-avó deles tinha morrido. Ela teve um infarto fulminante e morreu. Fiquei paralisada, em choque! Como assim essa mulher decide morrer no dia da minha viagem de férias? Não conseguia pronunciar palavra alguma, apenas um filme passava rapidamente em minha cabeça. Só pensava nos dias maravilhosos de sol, nas praias de areia branca onde eu ficaria largada sob uma canga colorida, nos passeios de barco, nos luaus regados à música latina e drinks coloridos e nas noites de amor que teria com o Murilo sem nenhuma interrupção.
Durante a última década, eu comi o pão que minha sogra sovou e, aquela tia-avó ajudou a amassar. Naquele momento, eu a odiei com todas as minhas forças. Num rompante de angústia e desespero, comecei a gritar: sua desgraçaaada! Gritei, chorei e solucei tanto que acordei com o Murilo me sacudindo com força. Ele ficou assustado e me perguntou o que eu estava sonhando. Quando me dei conta que tinha sido um pesadelo, comecei a gargalhar bem alto, até o despertador tocar. Por um lado, fiquei decepcionada. Não que eu desejasse a morte da velha, apenas uma longa e permanente distância. Por outro, estava radiante.
– Vamos, meu amor. – disse o Murilo cheio de carinho. Chegou a hora de sairmos para a nossa tão sonhada férias. Punta Cana nos espera!
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