Longe, ainda longe, na curva de Mesquita, já se ouvia o apitar do trem.
Movimentava-se a estação. Era o “fumaça” que ia chegar, como já anunciara o sinhozinho do agente.
Garotos, a postos, preparavam seus sacos de laranjas, suas cestinhas de biscoitos, doces de leite e roletes de cana.
As janelas abriam-se curiosas e, das chácaras de laranjeiras que se debruçavam até a linha férrea, saíam espectadores ansiosos.
O trem ia chegar…
Se bem que diário, era um acontecimento festivo, contudo, para essa pacata Maxambomba sem grandes preocupações.
Os trilhos já gargarejavam a aproximação da máquina ofegante, rumorosa, na sua majestade de civilização.
Da rua, onde pacientes burros tropeiros pisoteavam a lama, surgiam, ronceiramente, os retardatários.
O trem esperava…
O ar se impregnava de carvão, e a máquina, exalando um ofegante suspiro, parava finalmente.
Começava o movimento.
Fisionomias eufóricas, sorrisos, amabilidades, trocas de cortesias.
Eram conhecidos os que chegavam, porque só os conhecidos chegavam.
Com um plangente apito, que se perdia no eco das serras, partia, vagarosamente, o trem.
E o tempo passou…
***
Centenas de pessoas, acotovelando-se, comprimindo-se, esperam, na extensa faixa de cimento, o trem que não tarda.
E ele chega, o elétrico, rápido, como rápida estanca sua imensidão metálica, rangendo nos trilhos suas rodas freadas e seu ar comprimido.
A um só tempo, mais de uma dezena de portas se abre para uma avalanche humana que se choca com outra comprimida cá fora, que vai afoguetando, para dentro do trem, homens socalcados.
São fisionomias suarentas, cansadas, esgotadas do trabalho.
Empurrões, impropérios, palavrões.
Ainda há centenas de pessoas na estação, enquanto já outras centenas cascateiam-se pelas escadas, aos atropelos, para se arremessarem aos ônibus e lotações que se agitam, impacientes, nos seus motores de explosão.
Uma buzina curta, despótica, anuncia, a um tempo, o cerrar das portas e a partida do trem, instantânea, como uma veloz lacraia metálica do progresso.
Progresso…
Ó Nova Iguaçu, por que não ficaste sempre Maxambomba?
Ruy Afrânio Peixoto foi poeta, romancista, pintor, escultor, músico e educador. Mudou-se para a Baixada Fluminense em 1946, onde fundou uma importante escola. Faleceu em 2002, aos 84 anos.
Um tempo que se passou e eu só cheguei no finalzinho daquilo que hoje são apenas boas lembranças…