Elizeu procurava incessantemente o poema que tinha feito. Sim, escreveu o poema pensando em Esther, mulher de seu irmão adotivo Romão. Tudo se emaranhava em sua mente: a concepção do poema numa noite quente em que imaginava a pele branca de Esther se enroscando em sua pele preta; suas mãos percorrendo os corpos nus um do outro. Na escola, os três estudavam na mesma sala. Elizeu quase infartou de encanto quando viu aquela loira de cabelos cacheados, gordinha, entrando em sala de aula. Elizeu foi o primeiro a fazer amizade com Esther. Romão já namorava a escola inteira. Na hora da saída tinha brigas das meninas por causa dele. Diante da exuberância das meninas que Romão em sua pele branca e seus olhos castanhos seduzia, a simplicidade de Esther não seria uma ameaça de futura rivalidade entre os irmãos. Elizeu e Esther já tinham dado o primeiro beijo, quando o rapaz deixou a moça em casa e, enamorado, não viu o carro que vinha disparado, ao atravessar a rua. O atropelamento quase o matou. Internado, no primeiro dia de visita, Esther e Romão prometiam atualizar as matérias das aulas. Recuperado, na volta às aulas, Elizeu, a princípio, num átimo de inconformidade, não entendeu ao ver o irmão e a amada de mãos dadas. Isso o remeteu aos 10 anos, quando os pais biológicos de Romão chegaram do orfanato com ele nas mãos. Naquela época já vinha a sensação de que não eram irmãos sendo apresentados; e sim colegas de brincadeiras. Romão não podia se misturar com aquela gentalha do condomínio. Não custava nada adotar um pretinho para brincar com o mancebo. A beleza estética do casal lhe agredida, humilhava, ao mesmo tempo que o imobilizava de partir pra cima do irmão branco. Romão e Esther, brancos. Ele, preto. Os três se olhavam. Constrangimentos, decepções e a sensação de que absolutamente nada precisava ser dito. O tempo passou, Romão e Esther se casaram. Esther já estava no oitavo mês e meio de gravidez. E Elizeu estava desesperado atrás de seu poema.
– A empregada deve ter achado que era lixo e jogou fora! Você sempre deixa tudo jogado mesmo! – disse a mãe branca, indiferente.
Romão chegou com uma folha de caderno. Era o poema.
– Toma, Elizeu! Vi de bobeira no teu quarto, peguei pra mim, decorei e falei baixinho chorando e gemendo no ouvido da Esther como se fosse meu. Foi a única forma que encontrei de conseguir com que ela me perdoasse.
Elizeu sabia que as traições de Romão já haviam esgotado Esther, mas nunca havia passado por sua cabeça ver o irmão roubando um poema seu para reconquistar a mulher que ele também havia lhe roubado outrora.
Na noite seguinte, no meio da madrugada, Elizeu é acordado desesperadamente pela mãe. Romão e Esther haviam sofrido um grave acidente. Elizeu foi correndo ao local do desastre e foi parar num motel de beira de estrada. Lá, o recepcionista disse que Esther invadiu o estabelecimento completamente transtornada para flagrar Romão com a amante, uma colega de trabalho. Sob compulsivos bofetões da mulher, o adúltero ainda se vestindo, com bastante dificuldade, conduzia a mesma para o carro. Saiu em disparada. Logo adiante, os guardas, da viatura, avistaram quando o motorista do veículo, ao mesmo tempo que tentava conduzir o chevette era agredido aos socos pela esposa grávida. O choque do carro com um caminhão que vinha na contramão foi inevitável. Os dois morreram na hora. Mesmo morta, a grávida deu a luz à um menino lindo e forte. Na estrada, em estado de choque diante do carro destruído de Romão e os corpos sem vida do irmão e da cunhada, a mulher que ele ainda amava, Elizeu ouviu o murmúrio de um bebê recém-nascido. Ao virar com os olhos alagados de lágrimas, se deparou com o sorriso de uma criança mestiça. Lembrou que há mais ou menos oito meses e meio atrás fazia uma noite com um calor de 38° Celsius que lhe inspirou a compor o poema roubado, noite esta que não era um produto de sua imaginação como ele achava. Era uma sexta-feira em que os pais tinham ido a um retiro. Elizeu estava sozinho em casa. Esther entrou repentinamente, estava completamente bêbada.
– Eu escolhi o irmão errado! – gritava descontrolada.
– Calma, Esther! – Elizeu tentava ajudar. Você não tá nada bem!
– Me come! – ordenava Esther arrancando a camisa do cunhado.
– O que é Isso, Esther? – Elizeu não sabia o que fazer.
Esther arrancou a própria blusa e o sutiã, revelando os fartos seios. Imediatamente agarrou e beijou o cunhado com fúria, mordendo seus lábios a ponto de arrancar-lhe sangue.
– Você ficou louca? Um rio de susto e uma mar de desejo inundavam a mente do irmão preto de Romão.
Esther arriou as calças e a cueca de Elizeu ao mesmo tempo. Depois disso tudo aconteceu muito rápido.
– É isso que você quer, sua vadia? Aquele puto que te tomou de mim não te dá piroca não? Então toma vara, sua vaca?
Entre requebros, gritos e gemidos, os dois gozavam e desmaiavam de prazer juntos. Ao acordar nu no chão da sala, Elizeu estava só. Viu apenas escrito à batom na porta fechada: morreu aqui!
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