Já são 14 horas e ele não apareceu. Já está começando a chegar gente no ponto do ônibus. Começou mal. Não gosto de homens sem palavras e ele disse nas conversas que era pontual, disse também que não ligava por eu ser religiosa. Só quero ver. Trouxe a Bíblia na bolsa porque quero que ele ouça alguns versículos. O meu maior medo é de passar por aqui algum irmão ou irmã e me perguntar o que estou fazendo parada nesse ponto, que nem passa meu ônibus por aqui. Eles não podem nem sonhar que entrei no aplicativo a procura de um futuro marido.
São 14 e vinte e ele nada. A fila de passageiros está aumentando. Se soubesse teria marcado em outro ponto. Ele disse que era viúvo e tinha um casal de filhos já adultos. Antes assim. Odeio crianças, plantas, animais… Na verdade eu queria mesmo era me relacionar com alguém da igreja, mas a maioria dos homens são casados e pobres. O pastor, nem pensar. Desde o dia em que ele me pediu pra ficar depois do culto e tentou me agarrar. Deus me livre! Ele é preto, gordo, velho e ainda por cima casado. Nunca mais.
São 14 e trinta. Diacho! Já tem gente demais nesse ponto. Só falta daqui a pouco aparecer algum conhecido. Acho que o desgraçado não vem. Ainda por cima me passa de mãos dadas, dois veadinhos rindo e se beijando, uma perdição. Acho que já chegamos ao Apocalipse. É Sodoma e Gomorra. Me fez lembrar dos seis sinais da volta de Jesus. Vou esperar só até às 15 horas.
Acho que aquelas que estão vindo são a irmã Isabel e a irmã Maria. Meu Deus! Vou abrir a Bíblia e fingir que estou pregando. O Diabo é mesmo muito traiçoeiro, não é que o desgraçado foi aparecer logo agora? Vou fingir que não o conheço e louvar bem alto ao Senhor: “SE AS TRISTEZAS DESSA VIDA QUISEREM TE SUFOCAR/SEGURA NA MÃO DE DEUS E VAI/SEGURA NA MÃO DE DEUS, SEGURA NA MÃO DE DEUS/POIS ELA, ELA TE SUSTENTARÁ/NÃO TEMAS SEGUE ADIANTE E NÃO OLHES PARA TRÁS/SEGURA NA MÃO DE DEUS E VAI…” A que ponto cheguei…
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