Sabe aquele tipo de ser humano com astral bom e que quando chega tudo fica diferente? As pessoas se animam, o que estava dando errado passa a dar certo, a energia ruim que fluía antes se dissipa e o ambiente fica mais leve. Mas sabe também aquele tipo de pessoa que quando chega no lugar parece que o tempo fecha? É como se uma nuvem carregada cobrisse o sol e o que estava dando certo, passa a dar errado. O clima muda totalmente, fica pesado. A sogra de Elias era esse segundo tipo de gente. E ele sabia muito bem disso desde os tempos de namoro com a Margarete.
Tudo que ela passava o olho dava ruim! O quadro que estreava na parede, despencava, a televisão novinha, queimava e a geladeira, não gelava. Todo carro que Elias trocava tinha um galho de arruda em algum cantinho do banco. E mesmo assim, quando deixava a velha em casa, ou o pneu furava ou tomava uma multa num radar imperceptível. Se comprasse um celular, mantinha entocado o máximo de tempo possível, porque depois que ela botasse o olho alguma coisa ia acontecer: ou caía no chão, ou na privada, ou era assaltado. E nos dias de festas, então? O bolo solava, a feijoada salgava demais, o churrasco estorricava e a cerveja congelava. O forno enguiçava, a panela de pressão explodia, a churrasqueira tombava e o freezer esquentava. Parecia que os olhos da velha emitia raios infra malignos e ultra catastróficos nos objetos alheios.
A sogra de Elias morreu ontem e ele considera muito estranho o que vem sentindo por dentro nas últimas horas: está feliz. Jura de pés juntos que não quer ter esse sentimento. Ele queria sim estar triste. Porém não consegue.
Vai pedir para Margarete arquivar todas as fotos da mãe. Na verdade, queria pedir que deletasse, mas sabe que esse pedido seria descabido. Ele mesmo já apagou todas as fotos da sogra logo depois do enterro.
Vai esperar a missa de sétimo dia para sugerir, delicadamente, que não cite o nome da velha mais que duas vezes por dia. Vai dar a desculpa de que ela precisa descansar na Paz do Senhor Jesus Cristo e que Ele a guarde bem guardadinha ao seu lado! Para sempre! Para sempre mesmo! Sabe-se lá, circula cada história estapafúrdia por aí…
Conto espetacular. Parabéns!
Obrigado!
A voz do seu Nilton, com seu tom comedido e suas pausas, está impregnada neste conto.
Verdade
Isto é um tragicômico. Hilário!
Meus parabéns!
Vou na missa de 7º dia da sogra do Elias. Quem sabe rola uns docinhos…