Um hiato antes do fim… ou do começo

                        (UM CONTO PRA FAZER O LEITOR BABAR NA FRONHA)

            “Já estava mesmo passando da hora de fechar o caixão – já que o defunto vinha tão bem enfeitado; mas, ainda dava pra melhorar – não é meu Velho! – Se já estava bom daquele jeito! Havia o grande vácuo a tua frente; não precisavas mais nada, só fluir etereamente – mas não! És obstinado! Queres inventar e enfeitar a coisa toda… ‘melhorá-la!’ – Exaltastes gesticulando que nem um maestro diante de uma plateia invisível…  Estais mesmo iluminado, Ó grande Mestre! – É! Tem coisa que deve mesmo existir; e, se possível, até ser melhorada! Vamos! Não desistas! Ainda dá tempo de refazer o que está feito… e não te esqueças: deves sim,  bulir com cachorro morto – e remexer muito bem esse caldo que bem sabes do que se trata!” – A voz prosseguia com os sussurros ao pé do ouvido – dos ouvidos – ora e um ora em outro, com “o Cara” sinalizando a sua aprovação àqueles bons conselhos vindos do aquém do além. E o monólogo espiritual prosseguira, enquanto o ouvinte continuava fazendo exatamente tudo o que lhe pregava o vento – “Ó meu Senhor do céu! Manda ver nesse universo de uma vez por todas… Depois, aí sim, poderá sair por aí curtindo as suas viagens oníricas. Vamos lá, beba um gole daquele leitinho quente que sempre costuma lhe clarear as ideias; ainda não basta por hoje, faltam só uns dez pra daqui a pouco; então, faça isso! Sim! Isso vai dar bom! Já vi tudo né malandrinho, ‘tava’ me enganando, já tinha experimentado logo cedo; logo vi este frescor nas ventas – o nariz bem descongestionado e as pupilas dilatadas. Como eu não notara antes?! Quando iniciou o seu grande projeto astral estava agilíssimo – claro! Só pode?! Percebi mesmo que estava exultante, mas não me dei conta disso tão logo – agora, bem sei que já havia ingerido uma bela tigela matinal – leitinho com aveia e pó de estrelas… uma só não! Devem ter sido, pelo menos, umas três e… de carreirinha! Pois é, o efeito foi forte mesmo – instantâneo, melhor dizendo. Batia uma palma… e tchan… aparecia uma galáxia; com mais umas palminhas ritmadas vieram outras tantas – uma atrás da outra! Eis que, então, surge a Via Láctea, em justa homenagem ao seu prato preferido. Com quase tudo pronto e, com os seus aplausos efusivos, deu pra encher aquele infinito todo de uma só vez. Daí, altamente estimulado, respirou profundamente e com vontade – só pode ter sido assim… se não, como?!? Posso até imaginá-lo: acomodado naquelas névoas, preparando e batendo as tigelas com toda aquela Sua Maestria, diante daquelas xícaras dispostas em fila indiana, tão bonitinhas e fumegantes. Foram sorvidas com precisão em belos e demorados goles. Em dado momento, passou a ver alguns anjinhos o circundando; e eles também partilhavam do néctar abençoado. Logo, o que você via?!: eram anjinhos e mais anjinhos serelepes. Mas, a coisa estava divertidíssima, nem precisava mais nada, só você e o cosmo… Então!? Ainda há melhorar?! Sei que foram naqueles afãs de o quê? Milionésimos de segundo! ‘Tá’ de brincadeira! E o que veio, hem? Uma expansão infinitesimal de moléculas – Tú! ÓÓÓ toooodo Poderoso!!! Estavas sublime… e já não lhe falei lá atrás: ‘imagina se Deus, em sua divina sabedoria, resolvesse simplesmente descansar e deixar pra amanhã a completude de sua magnânima obra!’ Que nada! Só descansaria após terminá-la e, sinto prazer em enaltecê-lo… foi fazer as coisas bem tranquilão… e deu no que deu: fez só maravilhas! Maravilhas!!! Uma trás da outra… tinha acertado quase tudo… e… bem quando estava finalizando o paraíso, aí resolve sublimar com tudo:  Primeiro faz o homem e…, ainda, não contente com o trabalho, com todo esse seu peculiar jeito carismático; dá ao povo brasileiro mais um digno representante – Ó Mestre dos mestres!!!”…