Tavinho desce do carro e olha surpreso. A mansão estava toda iluminada. Parecia pronta para uma grande festa. Ele sacode a cabeça e solta um suspiro resignando. Era muito excêntrica essa sua madrasta. Louca! Para usar o adjetivo correto. Seu pai falecerá há três dias e ela ainda não o enterrara. Estava tentando transformar o ato fúnebre em um grande acontecimento… Algo tipo chefe de Estado! Ele entra pelo portão principal, sem vê-la. A casa estava cheia; garçons por todos os corredores.
– Que absurdo! – Ele resmunga
– É inacreditável!
Tavinho sobe para o andar superior em busca do seu antigo quarto; ela não teria a petulância de mexer. Pois bem, teve! Seu quarto agora era rosa, tinha ursinho de pelúcia por todos os lados.
– Que inferno! – Vociferou o rapaz chutando um pobre felpudo por de baixo da cama, que também era rosa e de flu-flu.
Apesar de muito contrariado, ele resolveu tomar um banho. Estava cansado demais. Foi aí que descobriu que o seu banheiro tinha uma banheira de hidromassagem, além de espelho no teto e sauna,
– Que loucura!
Provavelmente fora ela que enfartara seu pai, com seus exageros e extravagâncias… Em uma de suas conversas ao telefone, o pai lhe confessou que as finanças não iam muito bem; estava preocupado com os negócios, mas não deu detalhes.
Quatro anos se passaram desde a última vez que viera ao Brasil. Não pretendia voltar mais, não antes do decesso de Margarida, sua madrasta. Mas, infelizmente, seu pai resolveu ir primeiro e deixou a louca livre com os seus devaneios. Cansado, Tavinho resolveu não pensar em mais nada. Apagou a luz e imergiu naquela banheira de sais franceses. Alguns segundos depois, já um pouco relaxado, ele confessa com um sorrisinho nos lábios:
– É bom mesmo, esse diacho!
Em meio à sonolência, totalmente relaxado, sente que um corpo quente escorrega silencioso pra junto do seu… Era quente, cheiroso, macio! Tavinho tem certeza que é sonho, só pode ser… Um daqueles que povoam as suas madrugadas solitárias. E julgando dormir, aceita sem reserva aquelas mãos delicadas percorrerem pelo seu torso, em um trajeto que arrepia do umbigo à virilha… Toques tão íntimos e carinhosos que, mesmo cochilando, resolveu retribuir… Nossa! Havia muita veracidade naquele sonho! Mas, Tavinho não queria abrir os olhos… Temia estragar tudo. Aqueles beijos gulosos, uma boca faminta a suga-lhe os instintos… Não! Ele não iria abrir os olhos.
Mas alguém acendeu a luz! E ele viu a bela jovem saltar da banheira, estupefata, diante dos dois homens. Um vestido e outro pelado. Atônita, incrédula, ela pergunta já chorando:
– Amor! Não era você?
A mocinha estava desesperada.
– Eu juro, amor. Pensei que era você!
– Quem é você, seu pilantra? O que está fazendo no quarto da minha noiva?
Tão decomposto quanto a mocinha, Tavinho tenta explicar o que nem ele havia entendido:
– Pera aí, esse quarto é meu! Essa casa é do meu pai! Da minha família!
– Como assim? Você é louco? Entra na minha festa de noivado sem ser convidado, abusa da minha noiva e ainda diz que fomos nós a invadir a sua casa? Você vai explica essa história direitinho para o delegado.
E foi lá, na delegacia, que Tavinho descobriu que a mansão de sua família não pertencia aos Lourenço há mais de dois anos. Seu pai a havia vendido em segredo para sanar as dívidas com o banco. Mais pobre e sem graça, Tavinho foi levar flores ao túmulo de seu pai em um modesto cemitério da cidade.
Agora, vez por outra, ele se pega lembrando o dia que foi penetra na própria casa.
Muito bem escrito e divertido conto que eu gostei muito.👏👏👏