menino armário

Orgasmo fantasmagórico

Desde criança era acometido por um prazer mórbido em assustar todo mundo. Teve uma noite que ele desligou o disjuntor da casa, pegou uma toalha, pôs na cabeça e se escondeu dentro do guarda-roupa. Quando sua mãe entrou no quarto, tateando as paredes para encontrar a lanterna, ao abrir a porta do móvel, ele apareceu de supetão, dando um estridente grunhido, saltando sobre ela. A velha quase morreu do coração e por conta disso, ele levou tanta chinelada que ficou com a bunda vermelha por dois dias.

Anos depois, quando já adolescente, ele começou a desfilar num bloco carnavalesco chamado ‘O Fantasma da Ópera’. Adorava usar fantasias que aterrorizassem as pessoas. Era seu fetiche. Se vestia de Frankenstein, Drácula, Diabo, ou simplesmente usava um lençol branco sobre o corpo, com buracos na altura dos olhos e do nariz.

Certa feita, durante um desfile de carnaval, depois de causar um grande susto na namorada de um lutador de Muay Thai, quase virou fantasma de verdade. Apanhou tanto que perdeu todos os dentes da frente, por pouco não ficou cego de um olho e acabou com o rosto todo deformado. Deu entrada no CTI parecendo mesmo um morto-vivo.

Depois de adulto, ele não perdeu a mania da fixação em fantasmas. Diziam que ele era apaixonado pela Loira da Estrada, uma mulher muito bonita que aparecia a meia-noite, atraindo os caminhoneiros. Aconteceram muitos acidentes por conta disso. Quando ele ouvia essas histórias horripilantes, transformava-se num onanista compulsivo, pensando na bela ex-defunta.

Mesmo depois das cicatrizes pela surra que levou durante aquele carnaval, tinha a mania de fazer piquenique dentro dos cemitérios e ficava irritado quando os amigos não o acompanhavam nesses convescotes, mesmo ele prometendo levar as bebidas e as comidas. Um dia o Administrador de uma das ‘Casas do Descanso Eterno’ o colocou para fora à base de safanões, chamando-o de louco varrido.

Costumava também ir a velórios e se posicionar nas cabeceiras dos caixões. Ficava emitindo sons entre os dentes como se o morto estivesse dando algum recado. Queria deixar as pessoas assustadas. Um dia, quando foi descoberto o seu truque, foi colocado para fora da capela pelos parentes  do falecido aos sopapos, pontapés e empurrões, sendo chamado de retardado.

Enfim, apanhava todas as vezes que tentava ser reconhecido como ‘Alma do Outro Mundo’, ‘Enviado do Além’, ‘Primo do Capiroto’…

Só conseguiu o reconhecimento depois que foi indicado por um político, para um cargo comissionado numa Prefeitura de uma cidadezinha do interior. Ia lá uma vez por mês, só para assinar o Ponto. Quando descobriram essa falcatrua, todos passaram a chamá-lo de ‘Funcionário Fantasma’. Só assim ele ficou realizado. Só assim ele atingiu o clímax, o orgasmo fantasmagórico.