Armandinho, o pequeno notável. Assim era sempre chamado pelos amigos. Ele, por onde passava, nunca deixava de ser notado. O seu jeitão peculiar cativava a todos. Baixinho, magrinho, como vara de dar em doido. A sua cabeleira de roqueiro dos anos sessenta era muito invejada pelos amigos calvos e carecas. Mas o maior orgulho de Armandinho, que fazia o sinal da cruz quando eles diziam que aquela cabeleira seria no futuro apenas uma boa lembrança em fotos do passado. Armandinho, com seu sorriso largo, desdenhava dos amigos e seguia pelas ruas do bairro com seu andar malandro, de braçadas expansivas e calça caída, mostrando a cueca puída pelo tempo. Não era adepto do trabalho convencional. Carteira assinada, acordar cedo para embarcar em trem lotado e marmita azeda nem pensar. Os amigos costumam brincar que até hoje ele não conhece o caminho para estação ferroviária. Quando a coisa apertava e ele não tinha um níquel no bolso para beber a sua cervejinha e fumar o seu baseado, não se faz de rogado. Recolhia diversos bichinhos de pelúcia, que mantinha estrategicamente guardados em casa para esse momento de sufoco, e saia às ruas do bairro oferecendo de casa em casa o seu precioso produto, por objetos de ouro e prata, não se importando com a sua procedência. O que importava era conseguir um dinheirinho com a venda do ouro adquirido e alimentar os seus vícios por um tempo. O Armandinho, como se costuma dizer no popular, é um sujeito que dar nó em pingo d’água.
Mas nada deixava o Armandinho mais feliz que torcer pelo Vasco da Gama, (na verdade ele vivia triste com os resultados das partidas), e fazia questão de proclamar aos quatro cantos que esse era o seu maior vício e, por que não dizer, a sua maior paixão. Não perdia um jogo sequer. Quando não conseguia comparecer ao estádio de São Januário para ver uma partida do seu cruz de malta, o que deixava o coitado muito triste, assistia nos bares bebendo umas cervejas. Mas fosse no estádio ou nos bares sempre sofria feito um desgraçado com a falta de vitória do time querido. Além de conviver com o dessabor da derrota, tinha que aturar as diversas brincadeiras dos amigos sobre o seu time. O sempre alegre e brincalhão, Armandinho ficava uma pilha quando um deles entrava no bar com um lençol sobre a cabeça e dizia com uma voz bem fantasmagórica:
– Eu sou o fantasma do rebaixamento!
A gargalhada era geral e o Armandinho saia do bar xingando de todos os nomes até a última geração dos presentes. Os amigos não davam importância aos impropérios dele, porque sabiam que depois da ressaca o Armadinho voltaria a ser o velho amigo de sempre.
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