Uma estrada nas estrelas

– Vem, vem! Vamos subir naquela montanha ali. – apontava o menino Raji.

A montanha era na verdade uma pilha de sucatas velhas. O local de aventura escolhido por ele hoje, no meio da bagunça do ferro velho do seu tio, o fazia imaginar prédios, trens, castelos, vulcões, montanhas…

– A minha mãe falou pra não subir nas coisas velhas daqui.

– Mas você não tá vendo?

– O quê?

– É uma montanha com um foguete na ponta dela! Precisamos chegar até lá! E nós vamos até à Lua dentro daquele foguete.

– Tá bom! Vamos!

Yana só acreditava no que Raji contava a ela quando os olhos de seu diminuto e ágil amigo piscavam naquele tom verde brilhante.

– Pronto, só mais um pouquinho e a gente chega no topo.

Yana e Raji se ajudavam mutuamente a subir com esforço numa carcaça de um Fusca alaranjado pelo desgaste dos dias, seria avermelhado não fosse a oxidação contínua das chuvas, de águas e raios solares.

– Eu quero ser a copiloto, você será o piloto!

– Então eu sento aqui e você ali.

Sorrindo e ajeitando o cabelo, Yana  mexia e tocava cada saliência ou marca do painel enrugado fingindo serem os controles de uma nave espacial.

Raji percebeu ao olhar a sua esquerda que a irmã de Yana viera procurá-la.

– Yana! Desce já daí!

– Calma, nós já ligamos os motores, Gaya, não dá pra voltar agora – argumentou Raji.

– Eu já vou descer, Gaya, só vamos até a Lua e voltaremos. Amanhã iremos para Marte, tá bom?

– Tudo bem. Vocês tratem de ir logo para a Lua e voltar em segurança num instante.

E esse momento durou a eternidade de suas imaginações, cada uma das crianças se sentia plena naquele lugar de astronautas.

– Pronto, piloto, vamos colocar esse carro na estrada das estrelas!

Gaya sorriu com os devaneios de sua irmã menor e o pequeno Raji. A felicidade da irmã de dezesseis anos ao ver os dois brincarem no reino da imaginação preencheu seus sentimentos a ponto de tirar o smartphone de seu bolso e gritar:

– Olhem pela janela, astronautas! Hora da selfie!

– Dez, nove, oito,

E assim naquela tarde de um sábado morno, com o sol pintando de laranja o céu, Yana retratou seu rosto pela metade, e as crianças contando alto os segundos antes da decolagem rumo à Lua.