Há dois anos Ângela morava com Antônio. Tinham amigos em comum e haviam se conhecido em uma festa. Daí para frente, tudo foi muito rápido. Em menos de dois meses, já havia se mudado para a casa do namorado, deixando a família preocupada. Principalmente sua avó, Dona Maria, que depois que conheceu Antônio em um almoço da família, chamou a neta no canto para conversar:
– Cuida de ser feliz minha filha. Você não tem futuro com ele.
– Mas vó….
– Escuta o que eu te digo. Não gostei do que vi nos olhos dele.
Apaixonada, pela primeira vez, Ângela não ouviu a avó materna. Nem os pais e os amigos mais próximos. Entrou de cabeça na relação. O tempo foi passando e o orgulho a impedia de admitir que ela não tinha feito a escolha certa. Trabalhava no escritório, chegava cansada e tinha que cuidar da casa. Cogitou contratar uma pessoa para ajudá-la. Ela mesma pagaria. Mas Antônio não concordou. Disse que não queria gente estranha dentro de casa. Ângela não quis discutir. Antônio controlava os gastos de Ângela, o comprimento das roupas e até o que ela fazia no cabelo. Quando ela cortou o cabelo e fez luzes, ele fez um escândalo. Às vezes, quando ele trabalhava à noite, como vigilante, ela chorava abraçada ao travesseiro.
Quando Vó Maria faleceu, Ângela ficou desnorteada. Não teve coragem de ir ao enterro. Mas, tempos depois, quando visitou a mãe, viu a antiga cadeira de balanço, no canto da sala. Ela a tocou e as memórias afloraram em sua mente.
– Você quer? – pergunta a mãe.
Chegando em casa, Antônio se surpreendeu com a cadeira de balanço no quarto do casal.
– O que essa peça de museu tá fazendo aqui na minha casa? Você falou comigo por acaso? Só faltava essa! Amanhã vende isso no brechó. Tem um perto do hospital infantil. Aproveita e amanhã faz uma lasanha pra janta, tá?
Antônio foi trabalhar. Ângela estava deitada na cama. Travesseiro molhado de lágrimas. Não queria mais viver. O desespero foi criando forma e tomando conta do seu coração. Estava tão cansada que acabou cochilando. Sonhou com Vó Maria acariciando seus cabelos e cantarolando uma antiga canção de ninar. De repente, acordou. Sentiu a fragrância que inundava o quarto escuro. Alfazema. Perfume de vovó. Podia quase afirmar que a cadeira estava balançando. Seria possível? Ângela sorriu e não se sentiu mais só.
No dia seguinte, quando Antônio voltou do trabalho encontrou um bilhete em cima da cama. Ângela, suas roupas, documentos e a cadeira não estavam mais lá. Praguejou. Pensa que eu vou pedir pra ela voltar? Ligou para Aninha, a garçonete com quem estava saindo. Estava com puta vontade comer lasanha.
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