Toc! Toc! Toc!
Ela andava pisando no escarpan no subtérreo em direção ao seu carro. Os passos ecoavam no recinto daquela hora. Eram vinte e uma horas, em ponto. Havia esticado no horário para terminar o relatório sobre a viagem à Argentina, em que participara do Workshop sobre Empreendedorismo Digital para sua empresa de advocacia. Também tinha afinidade por marketing e fora designada a este evento para trabalhar com sua house, desenvolvendo uma melhor impulsão nas atividades comerciais. O estacionamento não estava realmente vazio. Era um prédio de moradores também. Muitos carros ocupavam as vagas cativas.
Toc! Tuc! Toc! Tuc! Toc! Tuc!… Ela também percebera… Houve uma sensível mudança no ecoar dos passos. Parou por um instante, recostando em um dos veículos estacionados.
Tuc! Tuc! Estes passos também pararam. Olhou em volta… O ar, agora, era de um silêncio absurdo. O silencio da morte! Ficou-se assim por alguns instantes. Silenciosamente se abaixou e olhou por debaixo dos veículos. Nada, apenas o silencio era gritante… E isso não é bom. Ficou-se assim gélido que dava para sentir um odor no ar… Essa sensação se alastrou em suas narinas. Era Essence.
Lembrou-se do dia em que estava no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires. – Oi – ele se aproximou – Vi você no Workshop – É brasileira, né?
– Oi, sim brasileira, por quê?
– Vamos no mesmo voo, sabia?
– Não sabia… – Olhou para um lado e falou – Opa, desculpe, minha amiga está vindo ali… – E afastou-se.
Lembra que se chegou a uma desconhecida e falou: “habla português? E explicou que se aproximou apenas para se livrar de uma abordagem incômoda.
No subtérreo o silencio sepulcral incomodava. Ela ali, inerte. Uma estátua. Agora, parecia que a fragrância se tornava um fog, uma bruma…
Ninguém consegue ficar apenas no silêncio absoluto. O recordista ficou apenas 45 minutos.
De acordo com os pesquisadores, isso acontece porque nossos ouvidos são adaptados para buscar sons. Em uma câmara silenciosa, os únicos ruídos são produzidos pela pessoa que está lá dentro – então ela passa a ouvir sua respiração, seu estômago e até os batimentos cardíacos. E essa experiência seria tão desorientadora que o voluntário começa a alucinar.
Até caminhar se torna mais difícil na sala do silêncio – como ela não produz nenhum tipo de eco, não ouvimos nossos próprios passos e ficamos desorientados. Para passar mais de meia hora lá, uma pessoa precisa estar sentada. A câmara é usada pela NASA, para treinar astronautas para suportar o silêncio do espaço. Além de ficarem no escuro e sem ouvir nenhum ruído, eles ficam flutuando em uma espécie de banheira, até começarem a ter alucinações. É mole?
E assim, o seu coração quebrou aquela a taciturnidade e, parecia, que a bruma se aproximava. Abaixou-se novamente e olhou por debaixo dos carros.
Quando se levantou, mal teve tempo de olhar o reflexo do vidro da janela do carro próximo, um homem se aproximar e falar:
– Te peguei!
Ele levou as mãos embebidas em algo ao seu nariz, mas ela não se deu por entregue e girou nos saltos conseguindo se livrar. Atenta ao sinal de perigo, havia se municiado de um spray de pimenta que tacou na cara do meliante que soltou um grito. Com a pequena luta, eles esbarraram no veículo que disparou o alarme e o grito lancinante do homem se fundiu ao mesmo. Ele caiu no chão. Com as mãos no rosto.
Era ele. Era o “argentino” e seu agoniante Essence.
O barulho do alarme atraiu os seguranças que vieram ao seu socorro e colocaram o homem sob custódia, salvando o dia da mocinha.
Um aviso, em caso de querer sequestrar um donzela incauta, use pantufas… E em, hipótese alguma use perfumes.
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