homem bar bebendo bebida

Essa vida é um porre

Seu nome era Heraldo Pena de Oliveira, advogado bem sucedido, mas era mais conhecido como “Doutor Cachaça”. Não só era conhecido assim, como ele mesmo fazia questão que o chamassem assim… No bar. Fora dali assumia a autoridade que lhe impunha o cargo e a vocação, “ofertada por Deus”, dizia ele. Nas barras da lei, era austero. Em casa, um excelente pai e marido; na vida um ótimo amigo, daqueles que  dizem: “Eu sou capaz de tirar a roupa pra dar para alguém que esteja precisando”. E era mesmo! 

No entanto, no boteco, taberna, restaurante ou botequim, era do doutor Cachaça!  Bem humorado, frequentador de karaokê (até que cantava bem). No entanto o que mais  gostava era de contar piadas… Já chegava se anunciando com uma piada:
– Galera, por que os policiais não usam sabão? 

Alguns perguntavam, não, porquê? E ele respondia:
– Porque ele prefere “detergente”! 

E o bar inteiro caia na gargalhada. E é claro que o doutor Cachaça tinha o seu  “cospe no chão” predileto… Era o bar do Noé. Que também era motivo de gozação do doutor. Via de regra o envolvia em seus chistes. Contava um causo e no fim se alguém  duvidasse, dizia: 

-Noé, Noé? 

E o velho Noé, sempre burilando um copo, assentia… As vezes divertido mas, muitas outras, de saco cheio. No entanto, mantinha o velho lema de que o cliente tem sempre razão: 

– É, sim, doutor! 

Além de seu boteco preferido, o doutor também tinha o seu aliado favorito: Pudim! Na verdade, seu codinome completo era “pudim de água ardente que passarinho não bebe, nem a pau!”, mas por ser demasiado grande, ficou aquele primeiro. Este era cachacista profissional e sempre ficava à espreita que o doutor chegasse para lhe pagar algumas doses. 

– Galera, um romano entra em um bar, levanta dois dedos e diz: “Cinco cervejas, por favor!” 

Pudim era o mais entusiasta e largava uma sonora gargalhada. 

Um cérebro entra em um bar e pede uma cerveja. O barman diz: Eu não vou  servir você… Você está fora de si! 

E tome-lhe pudim, ruidoso, levantando o copo seco e com a outra mão mostrando o polegar ao doutor, que assentia, e o velho Noé servia outra dose ao afilhado. 

Outro dia todos estranharam quando ele chegou sério e disse:
– Galera, hoje vou contar um caso de um cliente que me apareceu…

Todos ficaram sério, e olhem que o bar tinha muitos clientes, quase sempre. Mas, o doutor Cachaça era o astro, bastava chegar que ele davam atenção. E ele continua:
Um homem entra em um bar com seu cachorro e pede uma bebida. O barman diz “Você não pode trazer esse cachorro aqui!” O cara diz “Eu sou cego este é o meu cão-guia”. “Oh cara,” o barman diz, “me desculpe, eu não sabia. Aqui, a primeira bebida é por minha conta.” O homem pega sua bebida e vai até uma mesa perto da porta. 

Meu cliente entrou no bar com um chihuahua. O primeiro cara o vê, o para e diz: “Você não pode trazer esse cachorro aqui a menos que você diga a ele que é o seu cão-guia”.  Meu cliente agradeceu ao primeiro homem pela informação e pediu uma bebida. Previsivelmente, o barman diz “Ei, você não pode trazer cães aqui!” O segundo homem responde: “Amigo, eu sou cego e este é o meu cão-guia”. O barman responde  imediatamente: “Não, acho que não. Eles não usam chihuahuas como cães-guias.” Meu fez uma pausa, assustado, de meio segundo, e então responde “O quê??! Eles me deram  um chihuahua?!” 

Pudim quase cai da cadeira de tanto rir. Enquanto alguns nem entenderam a  piada. Foi então que perceberam que não era história de cliente porcaria nenhuma, até  porque ele não misturava nem os trabalhos e nem as bebidas. 

Noutro dia veio com essa:
– Galera, um fazendeiro endinheirado tinha três filhos e um dia o mais velho chegou até ele e disse: “pai, preciso de um carro… Na universidade, apenas eu não tenho carro”. No que o pai retrucou: “Só vou comprar seu carro depois de pagar o trator!” Logo depois, veio o segundo filho e disse: “Pai, preciso de uma moto pra sair com a minha namorada”. E o pai: “Nada de moto, por enquanto, até eu pagar o trator”! Pouco depois, veio o filho mais novo e diz: “pai preciso de uma bicicleta!”. Como era de se esperar o pai retruca: “Bicicleta, só depois de pagar o trator!” E o garotinho saiu tristonho em direção ao quintal, quando vê o galo em cima da galinha…  Ele vai até o enamorado casal e dá um forte chute no galo, e fala: “Nada disso, enquanto papai não pagar o trator, todo mundo anda a pé nessa casa!” 

Pudim, que havia dado um gole na bendita, esparrama o veneno por cima de alguns clientes, explodindo em uma gargalhada. 

É, mas, infelizmente, o doutor morreu em um acidente de transito horrível. Mas, terrível, ainda… Estava sóbrio!

Chegaram juntos ao céu, ele e um Papa. São Pedro mandou o doutor Cachaça se instalar em uma bela mansão de 800 metros quadrados, no alto de uma colina, com pomar, piscina, Maserati na garagem, etc… O Papa, que vinha logo atrás, pensou que seria contemplado com um palacete. Mas ficou pasmo quando São Pedro disse que ele deveria morar numa quitinete na periferia. 

Irritado, o santo padre observou:
– Não estou entendendo mais nada! Um sujeitinho medíocre como esse, simples advogado, recebe uma mansão daquela e eu, Pontífice da Igreja do Senhor, vou morar nessa espelunca? 

Ao que São Pedro respondeu:
– Espero que Sua Santidade compreenda! De papas, o céu está cheio, mas advogado, esse é o primeiro que recebemos!