Trocar o certo pelo duvidoso aumenta a incerteza. Pior do que ser burro parece a disposição de não saber nada e dizer-se senhor de tudo…
A inteligência mora na cabeça, obedece às regras do raciocínio, enquanto a ignorância passeia rindo da sabedoria por aí… Até bem pouco tempo mediamos o raciocínio pelo QI. Depois apareceu a ideia de construção do pensamento, a certeza de que tínhamos múltiplas inteligências…
Neste estigma de salvar a massa da burrice, qualquer manifestação humana sinalizaria inteligência. Aí demos o ponta pé inicial para o surgimento da inteligência artificial, capaz de seguir passos criptografados, condicionados; assim como o cão de Pavlov respondendo a estímulos.
Adestrar o homem é o sonho do capitalismo, o delírio da classe dominante, que esbarra na reação dos humanistas, porque a filosofia é a pedra no sapato da burguesia. A oposição à robotização propõe a busca da felicidade como saída, a imponderação do prazer, o direito ao lazer, a qualidade de vida.
A contradição transborda, sai do controle… Na tentativa de burlar o campo das ideias nasce a fake news. A antiga mentira, no centro das atenções, faz um sucesso danado, protagonizando a história atual da raça humana.
Anacleto, contemporâneo destes tempos, feio de doer, apoiado na máxima de que mentira multiplicada vira verdade, colocou um perfil falso num site de namoro; fruto de montagem, com foto de artista, corpo de sapo e recheado de romantismo!
Bombou nas redes sociais: tipo alto, boa pinta, musculoso, poeta, uma beldade digna de blog especializado em estética. Na voz pôs um filtro, mistura de Cid com Santoro. Abafou, choveu mulher na horta do genérico galã.
Começou a selecionar as candidatas de forma criteriosa: primeiro a maior bunda ganharia o deleite da sua companhia. A segunda exigência proibia o silicone, queria peitão duro ao natural. Terceira condição: só mulheres do sexo feminino.
Das mil propostas ficaram cinco: uma perdeu por que falava grosso, a outra dispensada pela barba nas axilas, a desligada faltou ao compromisso da seleção digital, a seguinte era bissexual: a disponibilidade fora clara, tratava-se de relação heterossexual.
A escolhida, a quinta — uma descrição perfeita na apresentação online — seios firmes, bumbum roliço feito coração, olhos azuis, silhueta de madame, olhar de puta, um colosso!
Marcaram encontro no baile de máscaras, naquele fatídico domingo de carnaval, no Terreirão do Samba, próximo à Central do Brasil. Ela fantasiada de colombina, ele de Drácula.
Ingressaram na folia, fizeram o trato de retirarem as máscaras mais tarde… No fim do show partiram pro vamos ver, ali perto, no banco da praça, no Campo de Santana. Entraram um dentro do outro, porque a carência foi maior do que a curiosidade… Após o gozo, tiraram as máscaras, a surpresa foi tanta que enfartaram, caíram duros decepcionados com a realidade, um pra cada lado.
Na hora da autopsia registraram na certidão de óbito — do casal — infarto por burrice artificial…
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