O cenário se passa no ano de 3600. A raça humana já tinha sido extinta. As profecias, que no longínquo século 21 se propagavam com ceticismo, se concretizaram: guerras nucleares entre os humanos, epidemias devastadoras, crise climática, enchentes, fome e desespero. E no final, o pior cenário ocorreu: a inteligência artificial triunfou. A guerra dos androides contra os humanos fez com que os androides levassem a melhor. Androides cibernéticos, robôs programados inicialmente por mãos humanas, e depois por computadores com inteligência artificial, possuídos por algoritmos incansáveis, inesgotáveis e sem erro, começaram uma guerra, que só terminou com o extermínio do último ser humano. Não haviam mais chineses, americanos, brasileiros, argentinos, franceses, paquistaneses… Tudo havia sido destruído, com exceção das memórias dos computadores.
Estamos num cinema no ano de D.A.I. (tinha-se abolido o D.C. (depois de Cristo) para uma sigla mais apropriada: depois da inteligência artificial!) Sim, esse espaço da antiguidade, o cinema, persistia vivo no mundo dos robôs, como uma espécie de teatro grego em ruínas. Os robôs se dirigiam, programados para assistir mais uma sessão de cinema. Imitavam as filas de bilheteria, como se fosse no início do século 20. Entravam e se sentavam. Os programas inseridos em seus chips, definiam o prazer que os robôs “sentiriam”, como pequenas descargas elétricas em seus chips eletrônicos. Esses estímulos, nos robôs, planejados para atuar como seres humanos, lhes davam prazer e um êxtase e uma certa calma, pois o maior computador entre todos, um supercomputador mundial, desejava manter seu domínio, e assim a paz entre os androides súditos da ordem mundial. Por isso lhes ofereciam o prazer, através de pequenos estímulos elétricos, que poderia ocorrer dentro de um cinema. O primeiro filme que assistiram foi Metropolis, dos anos 1920. Sentiram pena da personagem do filme, a androide Maria, mas sentiram felicidade ao ver a cidade dominada pelas máquinas, com os seres humanos trabalhando como escravos. Amaram assistir ao filme Admirável Mundo Novo, onde a organização ditatorial em todos os setores da vida mostraram a eficácia necessária do mundo, e deliraram com o fim do filme, onde o protagonista principal, um humano, se mata. No filme 1984 entraram em estado de delírio coletivo, com o desespero do humano, que não via sentido em viver, num mundo dominado pelo “Big Brother”, e lembraram da droga chamada “somma”, que acalmavam os seres humano. Veio depois, os Caçadores de Androides (Blade Runner), cujo filme foi deturpado pelos diretores androides, já que quem morre no filme é o policial humano. Riram muito com o filme Tempos Modernos, de Chaplin, e adoraram o primitivismo das máquinas que controlavam os trabalhadores. Assistem com estranheza ao filme Planeta dos Macacos. Riem mais ainda com o filme Frankenstein, que seria um protótipo do que eles são atualmente. Assistem com atenção ao filme O Planeta dos Macacos, onde percebem que uma espécie poderia substituir uma outra.
Um dos robôs sai do cinema, e sob um temporal, recebe um raio que o deixa desacordado um certo tempo, o que acaba por desconfigurar sua inteligência artificial. Perde seu “instinto natural de máquina serviçal” e surge em seu programa a CURIOSIDADE. Trabalhador de uma fábrica genética, resolveu pesquisar os seres humanos de maneira escondida, pois afinal, muito de seu “ser” derivava dessa fonte primitiva de forma de vida. De forma escamoteada, constrói um pequeno laboratório, onde após fáceis manipulações genéticas, reconstrói em tubo de ensaio, e depois num útero artificial observa o crescimento dos seres humanos. Nascem então um macho e uma fêmea. Crescem e já adultos fogem do mundo dos robôs, sonhando reconstruir um novo mundo.
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