Relex Descansado da Paz, caminhoneiro a um tempão, morava na zona sul de Mesquita, em frente a Caixa Econômica, onde recebia o dinheiro da transportadora. Vez por outra, na fila do caixa, alguém entrava na frente. Nem ligava; ria da situação…
Filho legítimo de baianos, deixava pra depois de amanhã qualquer problema, evitava conflito, dormia na rede, não via futebol; Seu eletrocardiograma parecia uma partitura de valsa, calminho, o coração não batia, solfejava.
Frequentador de religião protestante. aceitava tudo sem reclamar, mas achava estranho o pastor defender armas, fazer apologia à violência; no entanto, obediente, nunca protestava.
Comprava cerveja no bar, era logrado no troco, percebia mais tarde, deixava pra lá… No supermercado via na prateleira um preço, pagava remarcado na saída. Incapaz de manifestar qualquer contrariedade.
A mulher enfastiada de ver o marido, sempre passado pra trás, gritava: Casei com um banana!
Na sexta-feira, brilhava uma lua cheia, chegou tarde do serviço, abriu a geladeira, tirou o lacre da latinha, bebeu geladinha a cervejinha… Ao se deslocar na cozinha escorregou numa casca de banana, espatifou a testa no piso, o sangue jorrou. Desmaiou; voltando a si aos poucos…
Adiante desconstruiu a imagem de bobão, construindo uma personalidade imponderada, a família não entendeu nada… Após o tombo houve uma alteração nas ondas celebrais do indivíduo, ressurgia um novo homem, incapaz de levar desaforo pra casa, consciente dos direitos do cidadão!
As coisas tomaram outro rumo, acabou o fura-fila, fazia questão do troco. no mercado pagava o menor preço. A companheira, orgulhosa do companheiro, comentava com as vizinhas, em alto e bom som: Meu banana virou kiwi!
No trabalho, tendo o salário corroído pela inflação, organizou uma greve, ficou nervoso, brigou, esbravejou… Empolgado, ansioso, pifou na hora do discurso, o coração disparou… acabou a corda e parou.
Relex foi sepultado com uma faixa enrolada no caixão, com os seguintes dizeres: “A filosofia baiana se despede desta vida e sugere relax”.