Foram seus olhos cor de mel a última coisa que vi. Antes da escuridão. Estampavam tristeza e a dor da separação. Pertencíamos um ao outro. E tal, como amantes em segredo, desfrutávamos de momentos prazerosos,
O silêncio era sufocante assim como a escuridão, Para onde estava sendo levado? Não tinha a menor ideia. O tempo parecia andar devagar como se não tivesse muito o que fazer. Tempo perdido e arrastado. A solidão foi ganhando forma, criando corpo, um gigante ameaçador cujas pisadas dilaceravam a minha humilde existência.
Ouvi carros, vozes. Acho que estava perto de um rio, não sei. Minha localização ainda era uma incógnita. Cada dia que passava sentia que estava mais próximo do fim. Não tinha medo. Mas não queria morrer sozinho. Pararam. Portas enferrujadas e rangendo estavam sendo abertas. Expectativa. A escuridão se desfez. Estava sob a mesa e todos olhavam para mim jubilosos.
Já não era mais solitário. Outros como eu viviam naquele esconderijo fugindo da Guarda Imperial que em 2222 tinha o objetivo de destruir qualquer obra impressa em papel. Os livros eram considerados perigosos segundo a Grande Eva, sistema universal que regia toda
a comunidade planetária.
Assumo com todas as letras: sou um livro de Filosofia. E quando vi os meus coirmãos, juntos, naquelas estantes descascadas e gastas pelo tempo, em festa pela minha chegada, não me senti mais só…
Estava cercado de humano que me fitavam com assombro. Um dos homens que acredito ser o mais velho me pegou cuidadosamente em suas mãos calejadas. Começou a me folhear como quem desnuda a pessoa amada, Não palavras para expressar o prazer de ser lido por alguém. Aquele brilho no olhar fez florescer a esperança no futuro. Primavera em pleno inverno.
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