Frequentava a igreja de São Jorge desde a infância. Morava por ali e só me afastei quando fiz faculdade e fui morar mais longe. Já adulto e casado, voltei a morar no bairro e a frequentar a mesma igreja. Foi quando, aos poucos, retomei o convívio com o dia a dia da igreja e os assuntos que surgem referentes à paróquia.
A última discussão que apareceu foi um exótico pedido da Liga das Senhoras Católicas. Na verdade, é um grupo de senhoras aposentadas que se juntam para rezar, fazer fofoca e dar a sua opinião em conjunto. Dessa vez elas encaminharam ao padre Thomas um pedido para aumentar o pano que cobre as partes íntimas da imagem do senhor Jesus na cruz. Sim, uma imagem bem antiga, enorme, que adorna o altar da igreja desde que eu era criança. A mesma imagem. Fiquei com pena do padre e resolvi ir na reunião em que as beatas iriam apresentar a ele a sua insatisfação com a vestimenta do Altíssimo.
Chegando lá, já me deparo com a surpresa das irmãs. Não vou dar nomes, mas vou chamar cada uma por sua característica. Queriam saber logo filho de quem eu era. Sorte que o padre logo chegou e me salvou do tribunal das carolas:
– Irmãs, estou aqui para entender o questionamento de vocês e esclarecer qualquer dúvida.
– Não temos dúvida, padre Arnaldo. Queremos dar sugestões para aumentarmos o pano que cobre nosso senhor Jesus – disse a senhorinha que parece uma tartaruga de óculos.
– Irmã, é apenas uma representação. Se for só a imagem que está no altar, ela está ali desde 1975!
– Mas irmãs de outras igrejas ficaram incomodadas quando vieram nos visitar. Na igreja delas, as vestes do nosso Senhor são bem maiores – disse a senhora que era a cara da Regina Duarte.
– Irmãs, temos outras prioridades na paróquia. Arrecadar agasalhos pra doação, alimentos, catequese…
– O senhor quer dizer que não estamos dando conta das tarefas? – disse a outra que parecia a Hebe Camargo.
– Senhoras, só estou dizendo que isso nunca atrapalhou o andamento da igreja – disse o pobre padre.
– Está atrapalhando sim! Trouxemos aqui várias sugestões de vestes mais adequadas para colocarmos na imagem – voltou surpreendendo a Regina Duarte com desconto.
Agora começou a ficar legal. A imagem poderia agora vestir modelitos que pareciam uma toalha de banho felpuda, um short de jogador de futebol claramente do tamanho errado ou uma outra de tamanho irregular, mas que a parte mais comprida ia parar quase do pé do filho do Criador.
– Irmãs, posso dar uma sugestão? – disse eu já sendo fuzilado pelo olhar das senhoras que achavam que estavam convencendo o padre – A gente pode fazer um desfile e deixar que a Igreja toda vote no domingo. O que acham?
Juro, falei a coisa mais idiota que me veio à cabeça para mostrar que aquela situação era absurda. Mas não para as Liga das Senhoras Católicas da nossa igreja.
– Boa ideia, meu jovem. Podemos organizar o desfile e apresentar à comunidade já na missa desse domingo.
Agora quem me fuzilou foi o padre. Que ideia é essa que eu tinha dado, que ao invés de ajudar acabou atrapalhando tudo?
– Padre, deixa comigo. Vou desfazer o problema que eu arrumei – disse ao padre Thomas depois da reunião.
No domingo me sentei bem no meio da igreja, perto do corredor principal da passagem de toda a liturgia. Quando começou o Jesus Fashion Week, esperei pacientemente a passagem de cada modelo de tanga no desfile. Quando chegou o modelo em que a tanga ia até o pé, pisei bem na ponta da tanga e desnudei o modelo. Duas senhoras desmaiaram e até a imagem de Jesus tapou os olhos. O padre Thomas foi transferido de paróquia e mesmo depois de cinco anos ninguém tem mais coragem de pedir pra mudar a tanga da imagem do Senhor.
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