Clique aqui e ouça o conto A mordida no pescoço do policial Nicolas em áudio
Dois anos se passaram e Nicolas saía do presídio tendo apenas o amigo, o parceiro Célio, à sua espera. Depois de um apertado e demorado abraço, onde Célio quase encostou a boca na marca de mordida no pescoço do velho companheiro, os dois se dirigiram ao carro de Célio.
– Como você foi capaz, Nicolas? Jogar tua vida, tua carreira de policial, fora? Tudo bem que a nossa vida é uma vida de bosta, mas acabar com tudo assim, cara. A Débora era mãe dos teus filhos, cara! – Célio quase chorava.
– Eu só posso dizer que foi amor, Célio! Eu amei muito aquela mulher! A gente tinha acabado de fazer amor! Tô com a mordida dela até agora aqui no pescoço – Nicolas acaricia a marca da mordida com a ponta dos dedos.
– Mas como isso pôde ter acontecido, então?
– Ela jogou na minha cara que aquilo era só uma despedida. Que já estava em outra.
Nisso, Nicolas vê Silvano passando na rua enquanto Célio dirige.
– E essa bichona? – perguntou com asco.
– Terminou o Ensino Médio e tá fazendo faculdade de Letras.
– Bem coisa de viado mesmo. Nada me tira da cabeça que foi esse puto que fez intriga minha com a Débora. Ele sabia do meu caso com a Cristiane. Me viu com ela várias vezes e não saía lá de casa. Mas eu ainda pego ele.
– Deixa o Silvano pra lá! Mania que você tem de implicar com viado! Homofobia hoje em dia pega mal.
– Odeio essa raça!
– Vamos lá pra casa tomar uns drinks!
– Vambora!
Já na sala do apartamento de Célio, depois do terceiro whisky, os dois já tinham relaxado. Célio foi dócil, mas enfático:
– Você precisa saber, Nicolas! Naquela noite, que você matou Débora, fui eu quem levei ela pra casa. Eu estava do lado de fora o tempo todo, dentro do carro.
– Como assim?
– Por mais que vocês fossem rápidos para transar feito um casal de coelhos, jamais daria tempo…
– Você tá maluco?
– Tinha uma terceira pessoa com vocês!
– Era só eu e ela!
– Eu estou aqui com o celular.
Célio sacou o celular do bolso, colocou no viva-voz. Ouve -se gemidos no áudio. São dois homens gemendo. Ouve-se um grito. É a voz de Nicolas.
– Tá maluco, viado? Assim vai me deixar marcado!
Ouve-se a voz de Débora.
– Bonito, hein! Meu marido policial machão botando meu amigo viado pra sentar e ainda levando mordida no pescoço.
– Peraí, Débora!
– Pode economizar o “não é nada disso que você está pensando”! Pode continuar que eu estou voltando para a casa dos meus pais. Ainda bem que meus filhos já estão com mamãe! Já pensou? Naquelas idades descobrirem que o pai é viado e tá de carinho com o amigo da mãe?! Porque homem que come viado é viado também. Isso é fato!
– Me respeita, mulher!
– Aí, nossa! Ela tá me apontando a arma! Que meda!
Ouve-se um estampido de tiro e Célio desliga o áudio.
– Logo depois disso – continuou Célio – Eu vi Silvano sair correndo pelado de dentro da sua casa. Débora te flagrou transando com Silvano. Ele quem te deu essa mordida no pescoço. Você matou a mãe dos seus filhos para que ela não falasse a ninguém o que viu.
Nicolas sacou a arma do bolso e tentou apontar para a própria cabeça. Célio foi mais rápido e segurou seu pulso.
– Não será necessário, meu amor! É o nosso segredo!
E Célio se agachou perante o velho amigo e desceu bem devagar o zíper de sua calça.
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