Há algum tempo Valdirene andava desconfiando da fidelidade de Lindauro. Já não a procurava com frequência e sempre que lhe perguntava qual era o motivo do seu desinteresse, recebia de Lindauro sempre um olhar irônico e um silêncio de monge. Diante disso, ela preferia não continuar o interrogatório, porque sabia do motivo da sua resposta tão fria e preferia também manter o silêncio para a conversa não tomar outro rumo e o caldo entornar.
Ela que trabalhava feita um burro de carga num supermercado no centro do Rio, de oito da manhã até às dezessete horas, saia da sua casa em Queimados às cinco da manhã para embarcar no Japeri lotado, deixava Lindauro dormindo e nem um “bom dia de trabalho” recebia do insensível marido.
Ele que tinha um emprego melhor, trabalhava como assessor de um vereador local, não tinha muita preocupação com a hora, mas quando Valdirene retornava cansada do trabalho, nunca o encontrava em casa. Quando ela perguntava porque ele chegava tão tarde, justificava a contragosto que estava sempre a serviço do mandato do vereador. Valdirene engolia a seco aquela resposta, mas tinha a certeza que ela não era totalmente verdadeira, tinha trabalho sim, mas alguma mulher também.
A desconfiança de Valdirene e a indiferença de Lindauro eram uma situação recente. Eles que nos seus vinte anos de casados sempre foram um casal feliz, viam no filho único de dez anos, Joãozinho, a realização do casamento. Mas como cantava Belchior, ”a felicidade é uma arma quente”, e um irmão de Lindauro e antiga paixão de adolescência de Valdirene surgiu para dar fim a tão comemorada harmonia.
A escolha errada de Valdirene
Ano passado, Seixas que há muito tempo tinha partido da Baixada Fluminense para trabalhar em São Paulo, estava de volta ao Rio de janeiro, transferido para gerenciar a sucursal de sua empresa localizada no centro da cidade do Rio. Ao entrar em um supermercado na Sete de Setembro para fazer pequenas compras, se dirigiu para o caixa reconheceu de imediato Valdirene, quando também foi reconhecido. Era visível a alegria de ambos em se encontrarem. Como a fila do caixa estava grande, trocaram poucas palavras, mas marcaram para almoçar ali perto e conversar sobre os velhos tempos. Os encontros se tornaram frequentes e as conversas, que antes aconteciam nos bares e restaurantes da cidade, passam a ser na cama de motel.
Sabendo que por causa dela os irmãos se tornaram desafetos na adolescência, Valdirene nunca deixou Lindauro desconfiar do par de chifre que ela vinha colocando na cabeça dele. Ela pediu também a Seixas que prometesse guardar segredo. Ele não tinha motivo para quebrar a promessa porque também era casado. Mas em um dia de discussão com Valdirene que queria dar um fim naquele relacionamento, ele toma um porre dos infernos, liga para o irmão e conta tudo. De uma só vez se vinga dos dois. O pau quebra entre Lindauro e Valdirene.
– Com tanta gente para você me trair, fez isso logo com o canalha do meu irmão? – explode de raiva Lindauro. O clima ficou pesado entre os dois, mas o casal continuou junto pela felicidade de Joãozinho.
A escolha errada de Lindauro
Mas o que Valdirene não sabia é que ela também era traída por Lindauro, e o que é pior, na sua própria cama. Sua recatada mãe viúva (que morava nos fundos de sua casa) e que não demostrava qualquer sinal de vaidade, assim que a filha saia para trabalhar, ela entrava toda maquiada, de roupa íntima e se entregava nos braços do genro, na cama do casal. Essa situação perdurou por um bom tempo até o dia que Valdirene voltou para pegar a carteira de dinheiro que havia esquecido e se deparou com aquela cena: A mãe gemendo nos braços do marido e falando coisas impublicáveis. Num momento de explosão, expulsou a mãe da sua cama feito um cachorro magro e fechou a porta da sua casa. Depois, já mais calma, olhou para o marido e disse:
– Agora que estamos quites e cada um fez a sua escolha errada, vamos esquecer tudo isso e voltar a ter a felicidade de outrora.
Pegou sua carteira de dinheiro na mesinha de cabeceira, atravessou a sala, abriu a porta e seguiu para o trabalho.
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