Fui a um churrasco na casa de um amigo em Oswaldo Cruz. Bebida vai, bebida vem, tivemos a ideia de botar num papel algo que todo mundo deveria saber e alguns fingem que não sabem: as verdadeiras regras do churrasco.
DO GAÚCHO – É aquele que toma conta da churrasqueira. Se bater papo demais e deixar queimar a carne, é substituído na hora. Se for pai de família ou tiver bigode, tem grandes chances de ser indicado para ser o gaúcho da vez. Se for gaúcho de verdade, nascido no Rio Grande do Sul, é automaticamente escalado para tomar conta da churrasqueira.
DO RATEIO – Geralmente, um churrasco é feito com a divisão dos custos pelos participantes. Ou você “dá um churrasco” ou você “convida as pessoas para fazer um churrasco na sua casa”. Um pode dar a carne e o outro as bebidas, mas podem também estabelecer um valor e determinar quem compra o que. Essa última modalidade costuma dar merda, porque alguém pode não chegar junto com o dinheiro, pode não comprar o que prometeu ou pode nem ir ao churrasco. De todo modo, quando falta alguma coisa, seja no início ou no final do churrasco, é preciso fazer um ratatá (ou vaquinha). Se cada um perder um pouquinho, todo mundo ganha.
DAS BRIGAS – Dividir comida e, principalmente, bebida, pode terminar em briga. É considerado covardia puxar a faca do churrasco como arma ou usar o fator “a casa é minha” como argumento para resolver a briga. Covardia máxima é pegar o que você trouxe pro churrasco e levar embora. Se é comigo você nunca mais é chamado pra um churrasco.
DAS CARNES – Vale qualquer corte de boi, porco ou frango. Carnes exóticas também são bem-vindas. Cebola, batata doce, berinjela, pimentão… Não! Fora da minha churrasqueira. Molho à campanha é suco de vegetariano. Pode fazer à vontade. As carnes são cortadas na tábua de churrasco e podem ser servidas na própria tábua ou num tabuleiro de alumínio.
DA MÚSICA – Quem dá o baile, escolhe a música. Então nada de aborrecer o anfitrião colocando a música que só você quer ouvir. Jorge Vercillo está proibido, já que mesmo tocados no começo do churrasco parece que o churrasco está acabando. O grau de alcoolismo determina o ritmo também. O que não podia tocar nem a pau no começo do churrasco, mais pro final fica parecendo jukebox de botequim. Parece que ligaram a rádio do inferno no random. Mesmo assim, continua proibido Jorge Vercillo, pois é o verdadeiro “termina churrasco”.
DO TIOZÃO DO CHURRASCO – Todo churrasco tem que ter um tiozão sem noção. Aquele que faz a mesma piada batida: “Tô na dieta do açaí. Assa aí que eu como”. É um mal necessário. Geralmente embebedamos o tiozão para ele se acalmar ou ficar ainda mais mala. Pode ser útil mandar ele comprar carvão ou qualquer outra coisa no mercado, só pra dar uma arejada no ambiente. Se você ainda não identificou o tiozão do seu churrasco, cuidado: ele pode ser você.
DO BANHO DE MANGUEIRA – Se estiver calor, é permitido tomar banho de mangueira ou chuveirão para refrescar. Nada de tomar banho de cueca ou sunga branca. Short ou bermuda surrada, tá liberado. As mulheres tomam banho do jeito que quiser. Mas de biquini costuma dar problema.
DOS ANIMAIS – Só é permitido dar ao cachorro ossinho e carne que cai no chão. Quem der carne “boa” pro cachorro, apanha. Se tiver papagaio na casa, é proibido ensinar palavrão. Se ele já souber, está liberado interagir e ensinar a ele o nome de alguns dos presentes no churrasco. Mas não dê carne ao papagaio. Pode dar farofa.
DAS SOBRAS – Sobrou comida ou bebida, é do anfitrião. A não ser que o anfitrião peça três vezes pra você levar o que sobrou pra sua casa, não aceite. Se sobrar muita coisa é tradição acontecer o enterro dos ossos.
DO ENTERRO DOS OSSOS – É um evento que acontece geralmente no dia seguinte ao churrasco. É quando vocês compram tanta comida e bebida que dá pra fazer um outro churrasco. Geralmente é menos servido e menos animado. O bom é que tem menos participantes. Ficam só os mais chegados. Só que todo mundo já comeu e bebeu tanto que não tem a mesma disposição para comer e beber. Então é normal ainda sobrar comida e bebida depois do enterro dos ossos.
Escrevemos todas as regras em guardanapos. Tem vários rabiscos porque teve muita gente dando palpite. Algumas partes ficaram ilegíveis, seja pelo grau de alcoolismo de quem escreveu, seja pelas marcas de gordura do papel. Depois de tanta regra, chegamos a conclusão de que o melhor do churrasco é mesmo o improviso. E ainda tinha farofa. E sobrou molho à campanha.
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