Apareceram primeiro, nestas bandas, enrolados no cipó, enraizados na tribo Jacutinga. Um povo que deu as caras na Baixada Fluminense há muitos anos. Eles são os filhos do pântano, os senhores do fogo, os amigos da água, os parceiros do ar; em suma, povoaram esse território abaixo do nível do mar.
Os Jacutingas sabiam da importância da luta contra a expansão da colonização europeia no passado. Reivindicavam a propriedade das terras do hoje conhecido município de Mesquita.
Desta etnia Tupinambá restou o tataraneto do pajé, batizado nas águas do Rio Sarapuí como Chapado da Jacutinga. De raiz ancestral, mateiro de profissão, fitoterapeuta por vocação – mas teimoso por natureza – continuava brigando pelas terras dos Jacutingas.
Cansado do conflito sem solução, incompreendido, tratado feito bicho do mato, excluído da sociedade local, ficou carente; pois as moças de Mesquita recusavam o amor do índio Chapado da Jacutinga.
Desencantado, comprou um celular, enveredou num aplicativo de relacionamento, conheceu uma índia linda, enrabichou no namoro, apaixonou-se, arrumou as trouxas, conseguiu as passagens na política assistencialista, deu linha na pipa, partiu pra Belém do Pará.
Chegou à Rodoviária Novo Rio em traje de gala, arrumado segundo as tradições dos antepassados, desejoso de agradar a amada no Pará. Vestia um cocar de penas de pardal, um colar de bicos de pombo e a cara pintada de lama. Assim concluía, bastante original, o vestuário em pura pele.
Ao passar na roleta, foi barrado por estar pelado. Reagiu ao insulto com uma dança de guerra, uns pontapés e vários palavrões. No tumulto, sobrou a covardia da repressão: deram uma surra no indígena.
Na marra, foi jogado porta afora, a confusão não parou aí… Chapado da Jacutinga queimou um carro e, com a fumaça, alertou os índios fluminenses do ocorrido na roleta da plataforma. Antes da meia-noite, os originários da terra aglomeraram no entorno, cercaram a rodoviária. Então, ninguém entrava nem saía.
A reação foi imediata. A mídia plantou o aparato da fofoca na entrada da Rodoviária Novo Rio. Num sopro de tempo, brotaram as ordens de cima. O chefe da polícia estadual liberou a nudez na rodoviária. A situação ficou insustentável com os passageiros roçando uns nos fofos dos outros nas filas de embarque.
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