Uma mulher de pele dourada como o sol, criada com todo o conforto, falava vários idiomas, tinha tudo para ser feliz, mas algo faltava que não conseguia entender.
Diariamente, em suas meditações noturnas, perguntava:
– Por que esse vazio?
Numa noite de lua cheia, adormeceu na rede apreciando a beleza do céu. Em sonho, uma anciã a levou para um passeio no tempo, onde uma jovem foi arrastada pelos cabelos enquanto se banhava no rio, por um homem de pele vermelha, que a abusou de todas as formas, a deixando desmaiada. Ao amanhecer, as crianças a encontraram e levaram para a tenda de sua família. Seu pai, o pajé, sem nada perguntar, ao ver sangue escorrendo por suas pernas a expulsou da aldeia. Ainda tonta, sem conseguir entender o que havia acontecido, correu, desaparecendo mata a dentro. Sozinha, aprendeu a caçar e lutar. Virou uma guerreira pra conseguir sobreviver. Viu e sentiu a barriga crescer.
O dia amanhecia quando as dores começaram. Se encaminhou para o rio, pegando o barco que ela mesma construiu. Deitou-se e deixou a correnteza levar, enquanto aguardava sua cria chegar ao mundo. Dias e noites se passaram quando, finalmente, nasceu uma linda criança que imediatamente encontrou os seios, sugando-os desesperadamente, como se entendesse o que estava por vir.
O barco desceu rio abaixo por dias, até ser encontrado por uma embarcação de turistas estrangeiros que a ouviram chorando. Uma mulher branca tirou a criança de cima do corpo da mulher, a enrolou em uma toalha e a levou, batizando-a com o nome de Sol.
Sol despertou chorando, mas agradecida por entender sua origem. Ao abrir os olhos veio a imagem da tenda e lugarejo no Amazonas. Sem pensar, a moça comprou uma passagem com destino ao Brasil. Desembarcando no aeroporto de Brasília foi em busca de algo que a levasse para a tribo que tinha na mente. Não precisou buscar muito, pois no balcão de uma companhia tinha vários mapas dobrados. Imediatamente ela se dirigiu ao funcionário, que se apresentou como agente de viagens. perguntando por Amazônia e um leque de oportunidades se abriu. Até que aquele nome estranho surgir em um dos mapas. Ela imediatamente apontou:
– É pra cá que desejo ir.
O agente exclamou:
– Mas é uma tribo indígena que fica isolada, de muito difícil acesso.
Sem pensar, a moça respondeu:
– É pra lá que eu vou. Vem comigo ou não?
– Calma, calma! Eu vou te acompanhar.
E assim se dirigiram para o balcão de compras de passagens.
Cinco dias se passaram quando eles aterrissaram na aldeia. Muitos índios vieram cercando o avião, mas a moça não teve medo e ,sem perceber, começou a falar no dialeto deles, que imediatamente se acalmaram e a levaram ao cacique, bem idoso, porém respeitadíssimo. Ao olhar a jovem, começou a chorar dizendo umas palavras que ela não conseguiu entender. Era uma espécie de reza, agradecimento ou algo assim que emocionou a todos.
Mais calmo, o líder da aldeia se sentou e convidou Sol a se juntar a ele, perguntando:
Quem é a sua mãe?
Sol, sem pestanejar, respondeu com firmeza:
– A mulher que você não quis ouvir e expulsou daqui a 25 anos atrás.
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