As pipas dançavam de um lado a outro, sorridentes e vestidas de azul, vermelho, laranja e mais alguma outra cor entre o branco e o amarelo. As crianças sorriam, enquanto o fim de tarde chegava mansinho e preguiçoso.
Uma pipa “avoada” fez começar a correria dos meninos, ávidos, suados e descalços. Cezinha quase tropeçou no bueiro coberto apenas pela metade. Olhou para o espaço estreito e escuro, como se ouvisse um chamado, e deixando para trás a diversão e os vizinhos, aproveitou a condição de menino franzino e leve e entrou no buraco, curioso para ver o que havia lá dentro.
No escuro, uma luz azulada chamou-lhe a atenção. Quase não podia mover-se, mas apesar da dificuldade, abaixou-se para pegar o desconhecido, este, mais firme e brilhante do que um vaga-lume. Percebendo que era uma pequena pedra, colocou-a no bolso e voltou às pressas para o casebre onde morava, com a pipa e com a pedra, para mostrar o achado a um adulto que pudesse saciar-lhe a curiosidade.
A mãe lhe disse que não conhecia aquele tipo de pedra, mas que provavelmente, não era nada além disso mesmo. Uma pedra. – Seu avô já chega para jantar, aí você pergunta a ele.
Logo o idoso entrou em casa, esbaforido, livrando-se da pesada bolsa de ferramentas que trazia, e Cezinha rapidamente exibe a pedra que encontrou e que a essa altura, a vizinhança inteira já sabia tratar-se de um diamante, segundo contou a criança. – Pedra de fogo! Disse o velho levando o garfo à boca.
Visivelmente decepcionado, o menino guardou a pedra embaixo do travesseiro. Após o jogo de futebol na TV, era hora de dormir. Ele sonhou com uma voz vinda do bueiro que dizia – Tome! É um diamante! Sonhou então que podia viajar para um local de praia além de comprar a melhor bola de futebol do mercado, uma máquina de lavar para a mãe e todas as gulodices que ele e o avô amavam dividir depois da janta! Uma pequena pedra, mas tão valiosa capaz de realizar tudo o que o seu coração desejava.
Então, acordou cedo como de costume. Ao olhar embaixo do travesseiro, não havia mais pedra. Tampouco no chão. A mãe ainda fazia o café, não tinha varrido o quarto. Onde foi parar? Cezinha vestiu-se e foi comprar o pão costumeiro. Na rua, dentro do mesmo bueiro escuro, contrariando a luz da manhã, outra pequena luz azul reluzia no mesmo local. Desta vez a criança ouviu nitidamente um sussurro que dizia – Tome! É um diamante! Enquanto um sorriso sem rosto se acendia dentro da escuridão e as pipas bailavam no céu.
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