Era coisa de gente com grana. E eu que estudava num colégio de elite por causa de uma bolsa de estudos, estava sempre “à prova” diante das diferenças de classes. Tinha que ter muita gana, isso sim! O bom é que para estar ali no âmbito da aprendizagem estávamos todos no mesmo barco, pois para conseguir a tal da bolsa, tinha que fazer uma prova primeiro, para então conquistar seu lugar.
A diferença era material. Desde a chegada na escola a qual me dirigia a pé, até os carrões dirigidos que levavam meus coleguinhas. Os meninos com cada estojo mais irado que os outros; as meninas com presilhas nos cabelos com pedrinhas tão brilhantes que deveriam custar bem caro. E os lanches! Eu, às vezes, só com meu Dolly e um biscoito amarelo, que mais parecia isopor com sal.
Para todo esse aparato, só mesmo se meu pai ganhasse na loteria! Igual seu Rafael que ficou rico da noite para o dia, depois de jogar tantas vezes os mesmos números. Dizem que pegou do dinheiro que era para pagar a conta de luz, e fez a aposta. A esposa, por isso, ficou tão brava que quase o colocou para fora de casa. Mas, a partir daí, nada de escuridão. Seus olhos brilharam de felicidade!
É, mas… o meu pai não jogava, e dizia que tínhamos que trabalhar e estudar sem vícios e sem cobiçar o que era dos outros. Ah, mas tinha uma coisa que eu cobiçava. Era na hora do recreio, nunca me ofereceram, mas eu queria pelo menos experimentar! Até que um dia enfim, ah… meus olhos eram puro brilho no abrir do pacotinho, que vinha contendo uma embalagem (igual aquelas que eu tanto quis): era um Diamante Negro!! Foi no “amigolate” de fim de ano. Deu água na boca só de lembrar.
A partir daquela comunhão na comemoração que congratulara os melhores desempenhos na turma, dentre os quais eu fazia parte, ali, apesar de tudo, fiz amigos, que me encheram de luz feito pedras preciosas, docemente inesquecíveis e duradouros.
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