A gente quando é criança tem os sentidos mais aguçados do que na vida adulta. Tudo para a criança é novidade e ela nunca se cansa de aprender, de descobrir coisas novas e ver o mundo cor de rosa, mesmo que ele não seja assim. O mundo dos adultos é mais real, é mais tenebroso e não tem a ternura e a esperança do mundo infantil.
Em 1970, quando eu cheguei no Rio de Janeiro, vindo do Nordeste com a minha família enorme, meus pais, minha avó materna e os meus nove irmãos, eu tinha então dez anos. Fomos morar na antiga favela Botafogo, a atual Fazenda Botafogo, aonde não existia saneamento básico e valas a céu aberto, tráfico de drogas e diversos outros crimes eram comuns. Aos meus olhos de crianças nada disso eram visíveis. O que fazia os meus olhos brilharem e me deixava hipnotizado era a pequena televisão preto e branco que eu a gurizada assistia amontoada na porta da vizinha. Eu que nunca tinha visto uma TV na cidadezinha aonde nasci, achava tudo aquilo mágico e viajava nas aventuras de João Coragem e a sua luta obstinada para proteger o seu mais precioso diamante garimpado nas terras de Coroado. É certo que enquanto eu viajava no mundo imaginário da TV, na luta da família Coragem para proteger o precioso diamante das garras de Pedro Barros, o terrível e arrogante coronel de Coroado, o mundo dos adultos não era diferente em se tratando de desigualdade social e violência. Tinha a alegria do Brasil tricampeão, mas também tortura e morte patrocinadas pelo governo da época. Mas esse mundo de tortura e mortes não passava na televisão preto e branco da minha vizinha. O meu mundo era tão brilhante quanto o diamante que aparecia na abertura da novela das oito.
Que maravilha de texto e de lembranças. Nada como fazer de nossa vida, nossa história, um diamante, uma jóia rara. Meu amigo, Antônio Feitoza, é um diamante em minha vida.
As dificuldades do mundo lá fora da televisão apareciam como alegorias, no mundo representado nas cenas e diálogos. Nós viamos o encantamento do diamante.
Belo texto. Cada vez mais admiro a garra desses artistas que levavam sonhos, algum encantamento naquelas épocas de início da televisão. E na garra de Janete Claire e Dias Gomes fazendo belíssimas histórias nesses tempos.
Parabéns João Feitosa, belo texto, resgatando o divino, o lúdico de nossa infância.