O dia nem começou e lá estava ele acordando geral. Não tinha tempo ruim para ele, sob sol ou chuva, o dia ainda raiando e lá estava ele, à pleno gogó, cantando mais alto que a vizinha em dia de limpeza de sua casa.
Godofredo era lindo, enorme, pomposo, suas penas brilhantes e coloridas, mais para o alaranjado que para outras cores. Eu dizia que ele era meu ruivo favorito… eu só tinha ele, mas ele tinha mais de cinco companheiras! A primeira foi a Cremilda, uma linda galinha carijó, vinda lá das bandas de Austin, dada pela Dona Cema, justamente para fazer companhia ao Godofredo, meu primeiro e único amado galo, que me foi dado pela querida vizinha da rua de trás, Dona Angelina, logo após eu ficar sem meu coelho Pink, que na verdade era a Pink, fato esse que só veio à tona após sua morte súbita, que me deixou em prantos.
Godofredo era meu parceiro constante, seja empoleirado no galho da goiabeira, ao meu lado (onde eu sempre estudava), correndo pelo quintal, brincando de pega-pega ou arrastando a asa no chão quando a Jurema, minha irmã, vinha me colocar para dentro. Ai era uma correria só, a dela, porque ele queria bicar seu pé! Teve um dia que ele foi atrás dela no banheiro! Ela em cima do vaso, Godofredo dando saltos gigantes para bica-la (o pé já não era suficiente) e eu sem conseguir parar de rir enquanto tentava segura-lo… Ficamos os dois de castigo…
Em pouco tempo Cremilda e Godofredo aumentaram a família. cada pintinho mais fofo que o outro e nenhum ia para a panela, mas a vida, que era muito difícil naquela época, fez com que minha mãe vendesse a família toda para um outro vizinho, que gostava muito de mim e cuidou deles por muito tempo, até que se mudaram e eu nunca mais soube de Godo e sua família. Como chorei…
E para compensar essas perdas, um dia, passando em frente à uma poça de água, vi vários girinos nadando. Não pensei duas vezes! Peguei um pote que achei perto e catei o máximo que coube ali e levei para casa, começando ai uma nova criação de pets. Cheguei em casa e sem ninguém me ver fui logo jogando-os no poço que havia na casa. A melhor água da rua era a nossa, claro que eles seriam felizes! Ah, a gente já tinha água encanada e não usava mais o poço.
Tempos depois eles cresceram (eu os vigiava sempre) e eu fui tirando-os do poço, para surpresa de todos, indignação da Jurema e bronca da minha mãe. O grande problema é que minha intenção de soltá-los no em frente à minha casa foi sabotado pela Jurema, que corria atrás deles com um pau enquanto a outra irmã tentava impedi-la e eu corria com eles para o córrego. O resultado é que todos as rãs foram soltas, a jurema levou mais bronca que eu e eu nunca mais tive rãs como pet.
Muito, muito tempo depois, já adulta, eu comprei duas galinhas d’angola. Era uma alegria só! Quando eu chegava, fosse a hora que fosse, elas estavam lá no portão me esperando, e era um tal de “tô fraco, tô fraco” tão alto que a coisa foi ficando difícil, porque eu tinha uma vizinha idosa e acamada… Imagina o alarido à meia-noite??? Imaginou? Pois é… E no dia que teve a oração do terço na minha casa? Elas invadiram a sala bem no meio do Pai Nosso! A gente não sabia se ria, se rezava ou se pegava as galinhas…
Resumo: mais dois pets que foram morar na roça, pois tive que doa-los para um conhecido que prometeu cuidar delas. Tempos depois fui trás dele para saber delas e descobri que tinham virado ensopado. Ai que tristeza.
Depois dessa experiência, minhas futuras adoções se restringiram a cães, gatos e uma calopsita que morreu com 23 anos (Monsieur Pavarotti).
Ah, teve também uma arara maracanã que pousou machucada e depois de recuperada alçou voo com um bando que passou, ovos de jabuti eclodindo em dia de tempestade num quintal de uma casa que morei e teve um aquário com muitos peixes… Essas já são outras histórias…
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