– Olha, que cachorra!
– Tá maluco? Dia desses ela tava na praça agarrada num pastor.
– E essa aqui? Que rabão!
– Abre o olho. O labrador da rua de cima foi atrás de uma golden. Ela ficou prenha, ele assumiu a ninhada e quando foi ver os filhotes eram do fila brasileiro. Esse negócio de aplicativo de encontro é furada.
– É mesmo. Um beagle amigo meu marcou encontro com uma chow chow linda. Chegou lá era um buldogue trans e queria fazer troca-troca com ele. Foi um sufoco.
– Ele não cheirou o rabo antes?
– Amigo, conversa vai, conversa vem, o cara já tinha prometido até casinha e osso de borracha pro buldogue. Quase que o beagle virou cadelinha.
Os três vira-latas continuaram a passar pelos perfis no aplicativo até que passa na rua uma poodle, de coleirinha e tudo, balançando o rabo:
– Olha lá, caramelo. Uma cadelinha dessas aí não está no aplicativo.
– Cuidado. Tem um primo meu que saiu com uma poodle e ela pediu ração importada no restaurante. Teve que lavar os potes pra pagar a conta.
– Quer saber? Eu vou lá puxar uma conversa.
E lá foi o caramelo abordar a poodle sob os olhares dos outros vira-latas. Papo vai, papo vem…
– Eu não ligo pra pedigree. Gosto de cachorro com cheiro de praça, com lama no focinho.
– Eita. Me surpreendeu. Queria te chamar para comer, mas nem sei onde te levar.
– Me disseram que a loja da esquina tem água e ração de graça na calçada. Tô louca pra experimentar.
E lá foi o novo casalzinho exalando amor e balançando o rabinho pela calçada. Até que termina rapidamente o almoço:
– Fifi? O que você tá fazendo com esse vira-latas?
– Amor! Eu posso explicar – disse Fifi gaguejando para um husky siberiano com peito estufado.
– Já pra casa!
Caramelo voltou cabisbaixo, com rabinho entre as pernas. Ia ter que enfrentar os amigos depois de mais uma decepção:
– E aí? Cruzou?
– Cansei dessa vida. Daqui pra frente só quero cadela vira-latas.
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