Fazia tempo que não tinha notícia do meu velho amigo Lourival. Mas vocês sabem que notícia ruim chega logo. Pois me disseram que Lourival teve um infarto. Vou lhes contar como tudo aconteceu.
Meu amigo estava desfrutando da boa vida de garoto-propaganda de uma marca de rações para galináceos. Viajava o país de norte a sul, ganhava bastante dinheiro e arranjou uma bela namorada. Creiam, meus amigos, a Maricleide gostava do Lourival, do galo e da galinha. Ela era a mulher perfeita pra ele! Porém, a felicidade de uns pode despertar a inveja de outros. Neste caso, foi mais que isso. Inveja? Raiva? Não, meus senhores, foi ódio mesmo! Luzineide não aguentou ver seu ex-, rico e feliz, e planejou minuciosamente uma terrível vingança.
Durante um ano, ela recortou todos os jornais, revistas e tudo mais que podia encontrar de notícias de Lourival e seus bichos. Encheu a parede do quarto com aquelas imagens e rabiscou inúmeras linhas, setas, círculos, tudo em vermelho sangue. Seu desejo de vingança a deixou completamente surtada, mas ela tinha certeza que daria certo. Luzineide conhecia o cabra fazia era tempo, lá dos arrasta-pé do interior da Paraíba. Ela sabia as fraquezas de meu amigo melhor que ninguém.
Lourival se preparava para gravar mais um comercial numa fazenda em Mato Grosso quando, lá pelas tantas, apareceu uma jovem toda vestida de preto. Lamuriosa, contou a triste história de que ficara viúva recentemente. O marido tinha sido picado por uma cascavel e não sobreviveu. Essa era a maior fraqueza de meu amigo: não podia ver uma viúva que se comovia por demais. Lourival, um camarada simples e de boas intenções, já foi oferecendo ajuda. Astuta, a mulher pediu um pouco de dinheiro pra comprar um pedaço de terra, fazer uma plantação e um galinheiro. Dali mesmo tiraria seu sustento. Meu amigo não pensou e nem pestanejou. Deu-lhe o dinheiro. Alguns meses depois, recebeu uma carta da tal viúva, agradecendo-lhe pela ajuda e convidando-o para ir conhecer o sítio que ele havia ajudado a comprar. Lisonjeado, Lourival aceitou o convite e partiu em viagem com o galo, a galinha e Maricleide.
Foram muito bem recebidos pela jovem. A moça conversava bastante, contou muitos casos e deixou o casal bem à vontade. Serviu a melhor aguardente da região (onde jazia uma cascavel) e foi preparar o almoço. Uma boa cachaça era a segunda maior fraqueza de Lourival. O sujeito não se conteve e bebeu mais do que devia. Descuidou de seu galo e de sua galinha, já chamava a Maricleide de Luzineide e ria descontroladamente. Foi quando a moça colocou a comida na mesa para que todos se servissem.
Quando Lourival levantou a tampa da tigela, lá estavam o galo e a galinha. Meu amigo teve um infarto! Não morreu, mas quase. Foi uma gritaria e um corre-corre pela casa. Maricleide socorreu o namorado e ainda deu uma surra na tal jovem viúva que nunca tinha se casado. Era tudo uma farsa, o terrível e minucioso plano de vingança de Luzineide pra acabar com a felicidade do ex-. Depois de um mês no hospital, meu amigo voltou pra casa com Maricleide, o galo e a galinha. Quando sua namorada desconfiou de toda aquela firula, não apenas fingiu beber a cachaça, mas também trocou os bichos por outros do próprio galinheiro da jovem.
O episódio rendeu a Lourival alguns milhões em publicidade. São, salvo e com mais alguns dígitos na conta bancária, meu amigo pediu Maricleide em casamento. A notícia saiu em todos os telejornais. Luzineide voltava da labuta quando viu o noticiário. Fumegou de raiva, teve um infarto, e ali mesmo bateu as botas.
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