E foi assim mesmo que ele me disse aquilo tudo, gesticulando todo bobo como se tivesse acabado de comer mingau:
– Não precisa mais nada, já me basta pelo título! Já estou imaginando o cartaz… Vai ser como nos velhos e bons tempos da Lapa! Assim vamos homenagear meus dois programas preferidos, literatura e putaria. Por isso que marquei para hoje os testes com as strippers, são as gêmeas apimentadas… E… como amanhã é o dia da reunião com o grupo “aleatórios”! – Alçou a mão gorda como se reverenciasse o próprio pensamento – …Que você bem sabe, é coisa sagrada pra mim! Completara quase choroso – … E… Vamos logo, quero ver o espetáculo.
Quando eu disse que ele parecia ter acabado de comer mingau, teria sido pelo sentido figurado que eu bolei para definir qualquer expressão facial de surpresa que ainda não tenha sido criado um emoji muito claro e serve para expressar tanto a coisa boa quanto a má… Porque, assim me parece, todo mundo que gosta de mingau fica com aquela cara de quem o boi lambeu… Ele parecia bastante ansioso para assistir o nosso desempenho sexual. E pouco me importa dele ser um velho safado e viciado em voyeurismo, desde que me pague bem e, confesso, também sinto um baita prazer em ser olhado e aquelas duas parceiras eram mesmo da pá virada. Aquilo prometia!
E fomos direto pro salão da boate para a minha apresentação com as irmãs popozudas, as gêmeas Maju e Malu, da “Rosa e Pimenta”.
Um fundo musical sensual, um facho de luz as iluminando e elas já chegaram arrebentando junto ao poste. Elas foram se mostrando, despudoradas, ainda mais com aqueles gestuais; e as caras e bocas. Iam assim se despindo lentamente e pra mim foi bem difícil de distinguir uma da outra, tão maravilhosamente iguais. Então tentei firmar a minha atenção sobre as sutis tatuagens discretamente fixadas nas virilhas: com as figurinhas das rosas em botão e das pimentas malagueta; já sabia que as fizeram propositalmente para que lhes dessem o efeito espelhado, para fins de postagem em sites especializados em nudes (lembrei-me da foto colada no camarim: uma ao lado da outra e as tatuagens invertidas, com a pimenta de uma à esquerda e a pimenta da outra a direita e vice-versa com os botões da rosa – realmente ficava uma impressão de espelho e as maquiagens idênticas, até as marquinhas dos biquínis). As sutilezas estavam nos pequenos detalhes, nos pequeníssimos, se diga – somente bem de pertinho seriam notados e lá estavam: um “j” e um “l” dos diferenciais de seus nomes desenhados na polpa das pimentas; e o que mais me seduziu: uma a trazia à direita – a Malu; outra na virilha esquerda – quase onde se inicia ou acaba o osso do púbis fazendo o tal efeito simbólico do espelho. Absolutamente nuas dançavam e faziam as incríveis e performáticas piruetas no pole dance sempre desenvolvendo em dupla as posições mais grotescamente sensuais. É chegado o meu grande momento…
Quando adentro o palco, chego vestindo somente uma tanguinha “estampa de onça”, com a porra do fio terra enfiado no rabo – coisa que me incomoda mais do que excita – e, com uma espingarda de plástico passo a espirrar óleo corporal nelas, lambuzando-as inteiramente. Logo depois, em ato contínuo, vieram as massagens recíprocas, corpo a corpo; e fomos entrelaçando os três, deslizantes, torsos, costas, nádegas e coxas saradas, abdômen com abdômen, nos esfregando, aquilo nas mãos e mãos naquilo, e nas bocas também e nos seios e peito e tudo de cá pra lá e de lá pra cá… eu e as gêmeas gemendo naquele afã doido de que eu já nem sabia mais quem era quem, nem queria mais saber. As marquinhas dos biquínis miudinhos. Os seios e as virilhas com as marquinhas sutis e as tatuagens, era pimenta pra cá rosa pra lá… enquanto deslizava as minhas mãos lambuzadas em seus torsos, descendo e subindo perpassando os ombros, observando-lhes as nucas nuas (aqueles cortes de cabelo estilo joãozinho lhes caíam muito bem, e ressaltavam-lhe as formas generosas), elas se posicionaram de cócoras, senti-lhes os contornos dos seus dorsos se esfregando voluptuosamente em meu colo ressaltando toda a minha excitação sob o invólucro de látex, que eu sequer percebi de onde surgira nem como foi parar lá, fixei o olhar em suas nádegas duras e volumosas… eis que a música para e as luzes se acendem, elas se precipitam em direção ao fundo e se vão rebolando, me deixando sozinho lá deitado no palco, com a cara de bobo, de quem só sentiu o cheirinho bom, mas não comeu o mingau.
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