– Eu estava te ninando quando tua tia saiu correndo nua feito louca e se jogou na linha pro trem de carga passar por cima!
O mestiço Juca não aguentava mais ouvir aquela história da boca de sua mãe, a Ialorixá mãe Nina – preta viúva, filha de Iansã – sempre que fazia uma malcriação. Juca, no auge de sua juventude, charme e beleza de seus 25 anos, pouco se importava com tudo. Sentir prazer era seu lema. Tinha duas namoradas: a loira Ágata e a morena Vânia. Achava Vânia chata e boba, mas era apaixonada por ele; só ainda dava uma atenção porque era bonitinha. Ágata era rica, livre, tinha noivo e só o procurava por simples atração física.
– Estou grávida, mas vou tirar. Não quero filho seu! – Disse Ágata, no qual Juca sentiu grande alívio, pois lhe causava horror a ideia de ser pai e causar em um ser humano a mesma dor que seu pai Joaquim, branco bonachão, lhe causou ao partir dessa vida quando tinha quinze anos. A saudade do pai ainda lhe doía. Ágata morreu na mesa do aborto.
Depois de fazerem amor na casa de mãe Nina, Vânia disse a Juca:
– Tô grávida!
Juca levantou pegou um punhado de dinheiro no bolso da calça e jogou na cara de Vânia:
– Tira essa criança! Não quero ser pai!
Mãe Nina entrou no quarto, sem-cerimônia, e diante dos corpos nus do filho e de Vânia e falou com a determinação de uma yabá:
– Ela vai ter esse filho sim, Juca! Você não tem o direito de fazer com seu filho o que o seu pai fez com você, meu filho, pois foi por não aceitar fazer contigo o que tu tá tentando obrigar essa moça fazer com o filho de vocês que tua mãe foi abandonada por ele.
Juca com os olhos cheios d’água:
– Você tá ficando maluca, mãe? Meu pai morreu há dez anos atrás de infarto.
– Não, meu filho! Eu e Joaquim somos seus pais só no coração. Seu pai, só os orixás sabem onde tá, e quem te botou nessa porcaria de mundo foi tua tia, que se jogou na linha pro trem passar por cima.
Juca caiu aos prantos sobre o ventre de Vânia.