Esperancilda amanheceu convencida de que estava grávida:
– Ai, meu Deus, finalmente. Meu primeiro filho! Tenho que aprender a fazer crochê, trocar fraldas… Será que vai parecer com o pai?
Nem escovou os dentes, foi ligar para mãe, com bafo de macaco morto a tapa:
– Mãe!… Estou grávida! Estou grávida! – Exclamou dando pulinhos, quase mostrando a barriga pelo telefone.
A mãe:
– Não é possível!
– Claro que é, mãe… Todo mundo engravida hoje em dia… É uma gravidez independente – Exagerou – Mas, fique calma que eu vou casar!
A santa mulher intercedeu, delicadamente:
– É claro que não é possível, imbecil. Você é homem!… Homem-gay, mas é homem… – A conclusão – Não pode engravidar!
– Ai, mãe, que gay que nada… Eu dô de sacanagem…
PAM! A velha bateu o telefone.
– Começou minha batalha de mãe independente. Será que enfrentarei a incompreensão da sociedade por ser mãe solteira?
As palavras negativas da mãe não a convenceram. Tinha absoluta certeza que estava grávida. E só podia ser do Edi milson, o carcereiro do Bangu… Resolveu ligar para ele:
– Alô!… É da casa do Edi?… – Disfarçou a voz, em falsete.
Uma voz feminina, do outro lado:
– É sim. O que deseja?
– Diz para ele que é a Esperancilda… Tenho um assunto delicado para tratar com ele… – A voz embargada, de emoção.
A mulher que atendera ao telefone:
– Edi, telefone para você, amor!
Uma voz grossa, vinda do interior da casa:
– Quem é?
– É aquele viadinho, de novo!
O cara tomou o aparelho:
– Quifoi?!
– Edi, amor…
– Não me chame de amor… – Visivelmente irritado.
– Tá bom, paixão… Eu tô esperando um filho teu, querido. – Falou na bucha, a bicha. Silêncio do outro lado. O cara ficou estuporado, estupefato, boquiaberto, ou seja lá o que for… Mas, que ficou, ficou.
– Tá ouvindo Edi?… Você vai ser papai, amor! Tenho certeza que é seu… Nas últimas noites eu só fiquei com você, com o Fernandinho Beira-Rio, com o Rosa, com o Dormi e com o Manguaça… Mas, o último foi você, sortudo.
Aí o homem falou. Melhor seria não ter falado:
– Quer saber, vai tomar… – E completou a frase, num admirável Português, pra universitário nenhum botar defeito. E bateu o telefone. PAM!
– Ingnorante! Eu já esperava isso. Esses machões!… Fazem, e depois… Mas eu vou provar que é dele, nem que seja no programa do Ratinho.
E danou a falar com o umbigo, com a voz tatibitateada:
– Meu filhinhoginho… Pode dexá qui a mamã vai cuidá de voxê… Vou preparar o mingaujinho, tocá a faudinha, dá o pêtinho!…
Resolveu fazer uma ultrassonografia. A prova definitiva contra o ceticismo da sociedade vil… Hipócrita.
Resultado negativo, protestou:
– Não pode ser, dotô…Eu tenho certeza. Eu tô sentindo. Veja como está mexendo. Eu posso sentir esse serzinho, vivo, aqui dentro de mim, se mexendo…
Ô cara chato! Nova bateria de exames… Tava pagando…
Dias depois, resultado na mão, um nó na garganta e uma brecha no coração, Esperancilda foi para casa, desolada. Tava cheia de vermes. E, após tomar um vermífugo, desengravidou.
À noite, Edi ligou:
– E aí, como foi o parto? – Perguntou, morrendo de rir.
Esperancilda, traumatizada, não quis conversa. Bateu o telefone: PAM!
– Ingnorante!
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