Tantos caminhos reluziram no fim da minha infância. Contudo, corrompido pela idade, abandonei a criança que fui e mergulhei na adolescência. Homem feito, barbicha na cara, cheio de si, envolvido num universo cultural, ingressei na maturidade.
O espelho refletia a incerteza do futuro, as perguntas rondavam o imaginário, dentre tantas reflexões: qual seria o sentido da vida? Trazia tatuado no semblante a insegurança diante do destino, as dúvidas da jornada.
Começaram as especulações, as indefinições, os pensamentos rolavam na cabeça, viajava de olhos fechados no horizonte. Se eu fosse um astronauta viveria com o nariz a cima das nuvens, no mundo da lua; mas se acabasse o combustível do foguete, despencaria feito um parafuso.
Se eu fosse um mosquito, seria o mais fofoqueiro, embrenharia na intimidade das pessoas, no namoro dos casais, no papo dos políticos, nos segredos dos banqueiros, nas artimanhas dos espertos; todavia terminaria os dias vítima de um tapa na orelha.
Se eu fosse invisível, penetraria na guerra, saberia a hora do tiro e pouparia a morte de milhares de inocentes; porém nunca votaria, nem possuiria o corpo para gozar os prazeres dos cinco sentidos.
Se eu fosse um político honesto, desses corretos, consciente da importância do serviço público, fraterno, preocupado com a educação, defensor da saúde; acabaria com um tiro nos miolos, alvejado pelos ladrões.
Se eu fosse o ganhador da loteria do bilhão, ajudaria um montão de gente: tiraria o povo da calçada, dava um prato de comida a quem tem fome, curava a dor do doente, afagava o coração dos apaixonados. Agradava a massa, no entanto, contaria com a punhalada nas costas.
O tempo passou, procurei em todos os cantos o ser em mim. Perdido neste labirinto encontrei a saída na composição, virei autor da história, encerrei toda questão. Entendi que se eu fosse o que não sou, jamais escreveria, muito menos existiria.
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