A função do cérebro se assemelha a de um computador, armazenando informações e fatos obtidos através de experiências ouvidas ou vividas. Podemos somar a esse conceito de memória a aprendizagem que adquirimos, através dos anos, em nossa vida estudantil. A falta de proteínas nos primeiros anos de vida e algumas síndromes em pessoas idosas são causas da perda total ou parcial da memória. Em crianças, dificuldades no aprendizado primário. Nos adultos, os problemas com a memória se caracterizam, inicialmente, por não lembrarem de coisas ou acontecimentos recentes e, progressivamente, chegar à demência (Mal de Alzheimer).
Claro que um idoso não pode lembrar-se de todos os fatos vividos em alguma fase de sua infância ou vida, mas alguns deles ficam guardados em sua memória para sempre se esta não estiver comprometida. Pessoalmente, escolhi quatro acontecimentos: dois na infância, um na puberdade e um na maturidade.
O PRIMEIRO ACONTECIMENTO QUE ME VEM NA LEMBRANÇA: Tinha não mais de três anos e órfão de mãe quando meu pai chegou do trabalho acompanhado de uma mulher mais jovem que ele. Meu pai disse para mim e meus cinco irmãos que ela seria a nossa “madrasta”. Estávamos todos na cozinha de uma casa humilde em uma comunidade da Tijuca. Fazia muito calor e senti sede. Pedi, com o meu vocabulário da idade: “me dá água?” A resposta da recém-chegada foi rápida: após encher um copo com água, abaixou se e, dando-me o copo, disse com o vocabulário que tinha: “não é ‘me dá água’, é ‘fachavô, de me dá água’”.
O PRIMEIRO BRINQUEDO: Na infância, em casa e sem colegas, eu brincava com qualquer coisa. Entre outras, soprava fibras de algodão para que o vento as levasse, simulando nuvens ou balões. Fazia pipas usando papel de pão, piaçava que tirava das vassouras e o rabo eu fazia com tiras de papel que colava em uma linha. Meu pai não tinha como comprar brinquedos para a filharada. Futebol usando a fruta-pão, bolas de gude e peões só na escola durante o recreio. Mas, um dos meus tio paternos que morava conosco, nos presenteou com um imenso velocípede que tinha forma de um avião. Me faltam adjetivos para qualificar a alegria, minha e do meu irmão. Pedalamos no mesmo durante o tempo que a idade permitiu.
A PRIMEIRA BRIGA: Fiz o ginásio no Instituto Santa Rita que usava uma farda completa como uniforme. Um bom colégio, embora tivesse um refrão criado pelos próprios alunos: ”Instituto Santa Rita, entra burro e sai cabrita”. Localizado na rua Conde de Bonfim, fazia parede com um colégio tradicional local: o Colégio Batista Brasileiro. Na minha turma tinha um colega que não foi com a minha cara desde que me conheceu e não consigo entender isso até hoje. Seguia o conselho do meu pai que nos dizia para evitarmos brigas. Mas o infeliz me provocou tanto, tanto, que um dia resolvi “medir forças” com o dito cujo na rua. Ao sairmos do turno e com mais uma provocação, fui para cima dele e, me sentindo um Hulk, derrubei-o com vários socos e um “vale tudo” que só terminou com a turma do “deixa disso”. Nunca mais me perturbou.
MINHA PRIMEIRA AULA: Após graduar-me em Odontologia, meu sonho era ser professor desta especialidade. Poderia ter ficado como auxiliar de ensino na própria faculdade em que me formei (antiga Faculdade de Farmácia e Odontologia, atual UFF), mas um colega mais esperto me tirou a oportunidade. Isso em 1958. A luta pela sobrevivência profissional, aliado a problemas conjugais, adiou a concretização do meu sonho por 34 anos, quando me aposentei no serviço público. Em 1992 iniciei, no próprio consultório, cursos de Ortodontia para alguns colegas. Em 2002, finalmente, fui convidado para ser professor na PUC em Cursos de Especialização em Ortodontia, onde fiquei até 2016. Encerro o conto por falta de espaço, mas com muita emoção.
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